terça-feira, 31 de outubro de 2023

Feira do livro Snob

 Quinta 2 a sábado 4. Ver mais aqui

TPC: faça um texto de contracapa

Eu levo as contracapas muito a sério. De quantos elementos se faz uma contracapa? Muitos, provavelmente, mas para mim podem ser pelo menos cinco, sempre facultativos. 

Desafio: faça uma contracapa, de livro real ou imaginário. (E, se quiser, também a capa. Não importa se "não tem jeito", é um jogo.)

Livros há que têm badanas/orelhas e guardas bonitas, pelo menos os 'para crianças'. 

Já menos sexy (mas necessária) é a ficha técnica, também chamada cólofon.




Lançamentos

 Aqui ficam alguns lançamentos para breve, dos muitos que haverá. Este é o período mais quente do livro, os dois meses que antecedem o Natal. 

Podem buscar outros nos jornais, nas páginas das editoras, das livrarias (independentes tipo Snob ou Ler Devagar, as Fnacs até têm catálogo, Almedina, Bertrand etc). Quem não tem hábito de ir, vá a um ou dois, sugiro. E ponha-se no lugar de quem organiza.

Houve muito investimento? O público, como é? Tem beberete? Um ou dois apresentadores? Tem banda? (Este ano fui ao lançamento de um livro do excêntrico Manuel da Silva Ramos e tinha banda.) O autor é figura pública? Há jornalistas? 



(NOTA: este acima deve ser peculiar mas os interessados deverão responder até dia 2)






quinta-feira, 26 de outubro de 2023

A arte de ser feliz

Frederico Lourenço, autor, professor e tradutor das mais célebres obras (Ilíada, Odisseia, Bucólicas, Bíblia, et cetera) lançou, no dia 25 de outubro, a sua mais recente tradução: Horácio – Poesia Completa.

A tradução desta obra – diretamente do latim, como tantas outras – proporcionou ao tradutor uma mais profunda aprendizagem acerca de si. Todas as citações são dignas de menção, mas deixo a minha favorita:

 «Àquele, a quem agrada a sorte de outrem, a própria sorte desagrada. / Cada um está a ser estúpido; e responsabiliza, sem razão, o lugar onde está. / A mente é que tem culpa – ela que nunca pode fugir de si mesma» (Epístolas 1.14.11-13).

Aconselho, vivamente, a leitura desta curta crónica disponível aqui.

Os ‘Sensitivity readers’: editores alinhados ao zeitgeist ou ‘nada de novo no front’?

Recentemente o romancista Ian McEwan, ganhador do Booker Prize, expôs suas impressões em artigo do The Guardian, sobre a contratação dos chamados ‘sensitivity readers’, considerando a tendência editorial um caso de ‘histeria de massa’ e ‘pânico moral’. Uma clara censura prévia ao autor e até mesmo uma certa infantilização do leitor.

O debate sobre a nova profissão já havia ganhado espaço na esfera pública com a publicação do artigo Sensitivity readers: what publishing’s most polarising role is really about  no mesmo The Guardian

Seria a contratação de profissionais especializados em temáticas “sensíveis” efetivamente uma nova ferramenta editorial para analisar o uso de clichés, estereótipos e discurso discriminatório? Ou a moda nada mais é que uma nova roupagem para um velho procedimento que sempre foi feito pelo editor alinhado com o seu zeitgeist? Ou ainda apenas um novo campo da folha de pagamento introduzido por editores muito ocupados? Que estes ao menos não sejam tão sensíveis. Segmentação do mercado e hiperespecialização do trabalho não são exatamente uma novidade no capitalismo avançado.


Aula 5 (25/10) - breve resumo

1.  Ainda a história do estafeta

O moço disse na empresa que tinha sido entregue, eu disse hoje que não, foram verificar, o estafeta atrasou-se e não avisou a empresa de distribuição que de facto não tinha entregue. Pedem muita desculpa. 

Nada disto é terrivelmente grave, mas podia ser. O número de vezes que um lançamento não tem livros, porque houve «um atraso», um convite é enviado depois do evento, alguém no depósito diz que sim, vai enviar, mas depois esquece-se, porque é da natureza humana esquecermo-nos do que só é importante para os outros, não para nós. 

Por isso é tão importante dar seguimento, confirmar que a informação passou, fazer o follow up. Uma pessoa dizer que fez não significa que tenha feito. 

Regra: a parte interessada deve acompanhar o processo. 

2. Quem manda?

Quem é o rei? O autor ou o editor? 

E quem é o melhor rei, o que tem uma corte de bajuladores (Yes Men) ou o que tem conselheiros sem medo de dizer coisas desagradáveis?

Regra: quem me critica antes de publicar é meu amigo, quem o podia ter feito mas não fez «para não incomodar» é um amigo da onça. 

Vou dizer a Clarice Lispector para ser mais clara? Ou a Herberto Hélder? Claro que não, mas a outros autores posso pedir mais simplicidade, economia, rigor

Dica: podem procurar na internet os nomes juntos 'Gordon Lish + Raymond Carver'

3. A princesa e a ervilha

Temos de ser a princesa. Atentos às mínimas ervilhas no texto. Se não gritamos de dor quando vemos uma vírgula entre sujeito e predicado, talvez não sejamos princesas nessa área. 

Se não tenho tempo para ler, talvez não tenha real gosto em ler. (É um autoteste fácil de fazer.) 

4. Os vossos trabalhos

Parabéns, o que fizeram não pode ser apagado. É um documento de trabalho. De momento, não interessa se o verbete X está muito ou pouco certo. 

Demonstração prática de alguns princípios simples que melhoram logo o texto antes de o apresentarmos a alguém (= o tornarmos público). . 

Regra: perguntas claras são já meio caminho andado. E têm direito a respostas claras. 



TPC facultativo: traduza o poema de Raymond Carver



quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Exercício de tradução

 Como na próxima semana é feriado e não há aula, aqui fica um exercício facultativo de tradução com um poema de Raymond Carver: 




terça-feira, 24 de outubro de 2023

9.3 O papel do livro

    Por mais realista que um livro seja, este puxa-nos sempre para fora da nossa realidade. Quando voltamos a acordar, deparamo-nos com novas ferramentas para fazer frente àquilo que nos assombra.

    E mesmo que um só livro tenha sempre aquelas mesmas palavras e pareça conter a mesma informação, os frutos que cada um colhe de cada vez que relê esse mesmo livro são diferentes, como se um mesmo texto se adaptasse a diferentes estados de alma. Dessa forma, o papel do livro não é só um para todos os leitores, nem o mesmo num só livro.


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7.1: Livrarias, alfarrabistas e hipermercados


Livros. Aqui pensamos num fenômeno editorial de vendas das últimas décadas: a literatura de auto-ajuda. Mas será que se pode questionar a premissa de que estamos realmente tratando de livros? Não na qualidade de objetos empíricos e dotados de concretude física, materialidade, que certamente o são, mas da espécie de matéria espiritual em que se transformam. Será mesmo que o livro que é comprado numa livraria e num alfarrabista é o mesmo que o que procuramos no hipermercado?

E se nos propusermos a inventariar alguns títulos de livros e outros conceitos-chaves com que estas literaturas trabalham, numa tentativa de relacionar os campos semânticos em que circulam com outros atores sociais empíricos por onde transitam ou são consumidas estas mercadorias, livros a priori. Aqui estamos trabalhando com a categoria do leitor-receptor-consumidor transformado em co-produtor de sentido de uma nova unidade fundante: o texto-contexto.

Uma primeira percepção é quanto ao predomínio de títulos que ora remetem ao universo da ciência, da farmacologia, ora ao da magia, do curandeirismo. Temos “Gotas de sabedoria”, “Pílulas de Felicidade”,  “O Alquimista”, “Diário de Um Mago”. Na estilística há uma recorrência a regras, métodos, leis, que sugerem outras aproximações, desta vez com fórmulas medicinais, receitas de poções, bulas de remédio e leis da física ou da química. O discurso é muitas vezes o catequético ou teológico, como sugerem os títulos “Peça e Será Atendido”, “Você é Mais Capaz do Que Pensa” e “O poder do agora”. Na forma com que uma voz superior se dirige ao leitor, ouvimos o Deus-mercado falando com seu discípulo-consumidor. Nos discursos, a mesma doutrina. O indivíduo pode resolver tudo por si mesmo, com diversas roupagens: “pensamento positivo”, “lei da atração”, “lenda pessoal”. A diversificação e a distinção enfática das temáticas, servem para organizar e classificar os consumidores, padronizando-os, como pensa Adorno em seu ainda atualíssimo ensaio “Indústria Cultural”. Produtos de massa dirigidos a nichos de mercado que aparentemente conferem uma percepção de identidade diferenciada a cada segmento. Há os pseudo-filosóficos, os pseudo-místicos, os pseudo-literários, sendo que efetivamente a grande parte destes leitores-consumidores não possuem contato algum com nenhuma destas tradições, quer seja através de seus textos, comunidades ou práticas, mas simplesmente através da facilitação da mídia, que dilui e homogeiniza esses discursos. A produção de pertencimento a uma coletividade virtual, esta comunidade de indivíduos unidos anonimamente pela leitura de best sellers, se irmanando por esta estranha construção de uma identidade negativa _ leitores-de-auto-ajuda- anônimos.

Os templos de consumo são menos as tradicionais livrarias, quase nunca os alfarrabistas, mas sobretudo e, curiosamente, as prateleiras-santuários dispostas em forma de altar, nas mega-drogarias, hipermercados e lojas de conveniência AM/PM, 24 horas. Estes são os locais de distribuição desta espécie de livros. Em que matéria espiritual se transformaram estes objetos, se olharmos para a forma com que são distribuídos e consumidos. Curioso pensar que hoje dificilmente encontramos templos ou espaços sagrados abertos na madrugada, ao contrário de num passado onde o acesso ao curandeiro, ao feiticeiro, ao sacerdote, não conhecia horário comercial. Na madrugada contemporânea, quando os fantasmas dos loucos e dos insones tornam a assombrar, podemos ver este homem caminhando solitário, aprisionado em sua doutrina hiperindividualista. Seu slogan é o make yourself e seu destino os self-services. Na próxima loja de conveniência AM/PM ou hipermercado, o homem pensa encontrar o bálsamo para sua alma.

Karen Barboza Aldi

0.3 Economia ou cultura?

    Na verdade, não se trata de uma dicotomia, a edição consegue conciliar os dois aspetos. É, assim, parte do trabalho do editor ter em consideração o cenário cultural e em simultâneo “ajustar” a obra para a publicação, visando o seu público e tornando-a mais rentável.

    Vale ressaltar que nas últimas décadas, tem aumentado o reconhecimento do valor económico da cultura e o direito dos profissionais a serem remunerados pelo seu trabalho, porém a pandemia abateu-se de forma trágica sobre o setor cultural.  Durante o isolamento, as artes desempenharam um papel essencial e muito contribuíram para a nossa sanidade mental. 

    Os artistas e os profissionais da cultura ofereceram o seu trabalho através das plataformas digitais. Um exemplo disso é escritor brasileiro José Roberto Torero que diariamente postava nas suas redes sociais sátiras a respeito do ex-presidente Jair Bolsonaro. Atualmente, através do trabalho editorial, essas publicações ganharam uma dimensão económica e estão compiladas em 6 volumes pela editora Padaria dos Livros.

    Em suma, o editor está nesta posição de negociação entre a economia e a cultura de maneira que elas se complementem e não atuem de maneira dicotómica como sugere o questionamento inicial.


Bianca Elisa Pagan Rodrigues

9.2 Do Livro em papel

Um livro em papel é um mundo que cabe nas nossas mãos. 

É uma realidade paralela a que somos dados um acesso especial, seja este aos pensamentos privados de uma rapariga a viver o seu primeiro amor ou o monólogo autobiográfico de um político corrupto que desvenda acordos secretos do adversário numa tentativa de se vitimizar.


Um livro em papel, não é só a história que se encontra impressa nas suas páginas, é uma experiência em si. O peso do livro nas nossas mãos, o cheiro a novo (ou velho), a sensação do virar da página e a última vez que fechamos o livro após chegarmos ao fim da história. Faz tudo parte de uma experiência única que é perdida no e-book e que não é valorizada o suficiente.


Francisca Nóbrega

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

9.4: Nada/Tudo está por inventar

 Nada Tudo está por inventar

No que toca à evolução do livro nos últimos anos, pode parecer que tudo o que tinha a ser inventado, já o foi. Este sentimento exasperante deriva da abundância de conteúdo ao nosso alcance com apenas um clique, o qual faz parecer impossível ter um pensamento original. No entanto, a história tem um precedente de nos surpreender.

O que durante muito tempo sempre foi um aglomerado de folhas, hoje vem a ser representado de variadas formas e a diversidade dos formatos do livro alimenta o recorrente debate “o formato digital substitui o formato físico?”. Enquanto uns defendem a imortalidade do livro físico, do seu cheiro e da experiência de virar a página, outros defendem a conveniência dos e-books. O original livro físico tem vindo a perder adeptos devido ao seu custo e à “inconveniência” de o transportar, dado que o e-book tanto pode estar associado a um aparelho eletrónico desenhado para tal como o kindle, como apenas ao smartphone, os quais, nos seus poucos centímetros, conseguem albergar centenas de livros. Em adição a estes dois formatos, há ainda o audiobook, que gera conforto ao criar a sensação de companhia e regressa às raízes da tradição oral. Mas não será mais interessante especular sobre os futuros formatos do livro? Não será, certamente, o kindle a última grande inovação.

Com a diversidade de conteúdos surge também a questão “é um livro?”. Qual será a relação do conteúdo com o formato em que o consumimos, e será que este remove algum do seu significado e importância?

Mas é um facto que o objetivo das alternativas ao livro físico é replicar a sensação que o mesmo transmite, recorrendo a técnicas como reproduzir o virar da página num ecrã. Qual será então a futura forma de replicar o sentimento de ler um livro? Com o avanço da inteligência artificial e da medicina haverá alguma forma de o fazer sem recorrer a nenhum elemento físico? Por agora, apenas podemos aguardar e especular a existência de chips implantados no cérebro contendo uma biblioteca ou telepatias que nos transmitem enciclopédias.


Maria Fonseca

O equilíbrio delicado

2. A natureza da edição

2.3. Uma atividade comercial ou cultural?

Editar é tanto uma atividade comercial como uma cultural. Na verdade, reside na interseção entre ambas. Podemos dizer que, essencialmente, a natureza da edição é profundamente cultural, dado que envolve a preservação, a transmissão e a promoção do conhecimento – independentemente do tipo de texto em questão. 

Contudo, esta atividade é, também, comercial, dado que as editoras são empresas cujo objetivo principal é vender o produto, i. e., obter lucro. A decisão de publicar um livro passa, muitas vezes, pela avaliação do seu potencial de mercado e de rentabilização. 

Em última análise, a edição é uma atividade híbrida que beneficia não só da paixão pelo conteúdo cultural, mas também da eficiência comercial. Por outras palavras, a edição é uma tarefa multifacetada e complexa, que encontra o seu equilíbrio entre estas duas esferas: a paixão pela cultura aliada a planeamento estratégico e a avaliação de custos, de prazos, e da procura do mercado. É através do lucro que a editora obtém que pode singrar, continuando, portanto, a ser capaz de disseminar cultura.

Clara Cuéllar dos Santos

domingo, 22 de outubro de 2023

5.4. Admirável mundo novo: ibuques, dibuques, amazonas

    Era digital: evolução ou apocalipse? A verdade é que a era digital veio transformar a indústria editorial, apesar de muitos ainda acharem que a veio demolir.

    O aparecimento e sucesso do ebook prova como o conceito de livro é móvel. Os livros em formato digital tornaram a leitura mais acessível e conveniente do que nunca, sendo agora possível ter uma vasta biblioteca nas nossas próprias mãos. Mas será que a praticidade deste formato consegue igualar à experiência sensorial de um livro físico? O facto de não ser possível sentir o cheiro do papel ou a textura das páginas não torna o ebook menos livro. O livro não está a morrer, apenas se transformou em função de um novo mundo, cujas necessidades são diferentes daquelas do tempo anterior à internet.

    O mesmo aconteceu, por exemplo, com a Amazon, que, embora tenha suscitado preocupações quanto à competitividade e diversidade do setor, concebeu uma nova visão do mercado aos editores, leitores e até aos próprios autores.

3.3 Tradutor, revisor, designer, paginador, marqueteiro

 O processo de levar um livro até às mãos do leitor é algo complexo. Envolve preparação e colaboração entre diferentes campos.

O revisor tem o papel crucial de garantir que nenhum erro passa por ele. Isto é, tem como principal função detetar e corrigir erros gramaticais, ortográficos e de estilo, de modo a garantir que o texto é claro e coeso. 

O tradutor, quando chamado, tem como objetivo tornar o texto acessível a diferentes audiências. É responsável por transformar o texto de uma língua para outra, garantido que o sentido e o significado do texto da língua de partida se mantém no texto da língua de chegada.

Já o designer dá vida ao conteúdo, isto é, escolhe layouts chamativos, diferentes tipos de letra, elementos gráficos, entre outros. Tem como principal objetivo tornar o livro visualmente cativante. Trabalha lado a lado com o paginador, que organiza o conteúdo nas páginas, seja em formato impresso ou eletrónico.

Estes quatro conceitos estão intrinsecamente ligados e tornam o livro possível e, por fim, o marqueteiro desempenha um papel mais exterior ao livro. Tem como função promover e comercializar, fazendo com que o livro cumpra o seu propósito, seja ele educar, informar e/ou entreter.


Inês Martins

 

9.4. Tudo está por inventar

 

9. O futuro do livro


9.4. Nada Tudo está por inventar


Para que possamos discutir o futuro do livro temos, inevitavelmente, de ter presente o seu passado. Nem sempre o livro foi o que conhecemos hoje. Já o lemos em tábuas ou em rolo, em suporte de papiro ou pergaminho, sempre como exemplares únicos, na ausência de uma reprodução e distribuição massificada como a que temos hoje.

Seja em que altura ou em que forma tenhamos conhecido o livro, a verdade é que qualquer alteração de fundo, em qualquer um desses momentos, originou questões como a que colocamos nos dias de hoje, quando nos deparamos com a alteração do livro em papel, para o livro em formato digital: que futuro? Será este o fim do livro? Que mais iremos inventar?

A verdade é que como nunca ninguém um dia imaginou um livro reproduzido milhares de vezes, também nunca ninguém um dia imaginou um livro sem papel. No entanto, contra tudo e contra todos, qualquer um deles se concretizou. Assim estamos nós. Por mais que achemos que já vimos e construímos tudo e que nada mais há para inventar, a verdade é que tudo será ainda possível. Não temos conhecimento suficiente sobre o que os dias nos trarão, para perceber o que poderá ainda ser criado. Apenas o futuro nos mostrará os livros que ainda iremos ler.

7.1: Livrarias, alfarrabistas e hipermercados

  

Deixe estar, eu vou ali ao continente que é mais barato”, esta foi uma das frases que eu mais ouvi neste meu último ano como livreira e, embora eu preferisse não a ter ouvido, não deixa de ser verdade.

Os hipermercados têm sido uma presença cada vez maior no mercado livreiro. Sem a necessidade de fidelização, o cliente pode desfrutar de descontos directos em qualquer livro que encontre no hipermercado- algo que não fará uma grande diferença nas novidades (livros com menos de 24 meses), que, devido à lei do preço fixo, não podem ter mais do que 10%.

Mesmo assim, várias pessoas deslocam-se todos os dias ao seu hipermercado de eleição e aproveitam para comprar um livro. Além das novidades em grandes quantidades, é possível encontrar pirâmides de livros que, por já andarem no armazém da editora há algum tempo, foram ali parar com etiquetas de 50% de desconto ou mais.

No entanto, para quem procura um livro em específico, talvez seja difícil de o encontrar no hipermercado, e com a ausência de uma pessoa mais especializada para ajudar é preciso ir à livraria para o encontrar.

Nas livrarias, nomeadamente as pertencentes aos grandes grupos, apesar de o foco estar também nas novidades e nos livros mais comerciais, é sempre possível descobrir algo de novo. É certo, também, que é mais provável terem o livro procurado.

Todos os dias úteis chega novo material à loja, quer seja novidades ou reposições, isto implica na maioria das vezes uma reorganização de secções de modo a caberem os novos livros que chegarem. Os destaques são sempre diferentes e os livros estão sempre a mudar de lugar. Este exercício constante de arrumação leva o livreiro a conhecer a sua loja como a palma da sua mão, o que dá jeito quando outra parte significativa do trabalho é a procura dos livros.

Atribuo, assim, a beleza da livraria ao livreiro, a pessoa que mesmo trabalhando numa rede de livrarias onde, por norma as lojas são iguais, consegue trazer algo de novo ao seu local de trabalho.

Ana Luísa Vasconcelos

10.1 Artesanato ou indústria

Se até meados dos anos oitenta as editoras portuguesas eram de pequena ou média dimensão, a crescente concentração em grandes grupos editoriais expôs que a edição não se tratava apenas de artesanato, podia ser feita em larga escala, de forma “industrial”. Surge então a dicotomia entre livro enquanto veículo de cultura e livro enquanto mercadoria. O livro deixa de estar apenas nas livrarias e alfarrabistas, passa a estar no supermercado, junto ao amaciador para o cabelo ou ao peixe congelado, até mesmo em estações de serviço.

    Parece-me que se trata de uma falsa dicotomia. Talvez o livro seja mesmo uma mercadoria capaz de veicular cultura. Talvez a edição seja uma arte – capaz de trazer ao de cima os autores mais obscuros, os textos mais experimentais, os formatos mais inesperados – e simultaneamente uma indústria cujo objectivo é facturar e que se guia por princípios mercantilistas. Há espaço para todos porque há leitores para tudo. A prova disso é que, apesar da concentração do mercado editorial, nos últimos anos editoras independentes têm surgido como cogumelos num Outono chuvoso. Esta aglomeração pode sim ter eliminado o modelo “tradicional” de pequena editora. Muitas vezes são projectos quase unipessoais, microempresas que não são a principal fonte de rendimento do editor. Outras são cobertas financeiramente por negócios mais rentáveis, como uma livraria (Snob, Tigre de Papel) ou prestação de serviços de tradução e revisão (Oficina Caixa Alta), por exemplo. 

    Arte e indústria não se excluem, complementam-se. Se As Malditas, de Camila Sosa Villada, foi editado em Espanha por uma chancela da gigante Editorial Planeta, em Portugal foi editado pela discreta BCF. Se Um Detalhe Menor, de Adania Shibli, foi originalmente editado pela Fitzcarraldo Editions, que publica um a três títulos por mês, em Portugal foi editado pela Dom Quixote, chancela que integra o grupo LEYA e que só no último mês publicou mais de uma dezena de livros. Existem, portanto, livros interessantes a surgir de ambos os meios.


João Narciso.

sábado, 21 de outubro de 2023

Sonho lindo ou realidade deprimente?

 10. O que quero ler/editar?

10.3. Sonho lindo ou realidade deprimente?

Da maneira em que o mundo se encontra, torna-se complicado saber o que ler. Devemos optar por um sonho lindo, e fugir à realidade na qual vivemos, ou ler sobre um realidade deprimente na qual somos confrontados com a cruel atualidade? 

Verdade seja dita, a realidade deprimente nunca me apelou, pois nela já eu vivo. Portanto, deixem-me ficar com o meu sonho lindo em que, por alguns momentos, é possível esquecer aquilo que me atormenta e aproveitar o que, a meu ver, é a literatura, ou seja, um escape do mundo real que me permite enriquecer a minha imaginação. Talvez seja disso que as pessoas precisam, um pouco de descontração, para poderem voltar, de certa forma, mais frescas à realidade. 

Será ignorância? Querer ler um romance sobre milionários para esquecer que sou pobre?

A feira permanente

A feira do livro é o evento onde escritores, editoras e livreiros expõem obras diversas. Realizada com o objetivo de incentivar o hábito da leitura e de criar laços entre autores e leitores, é o espaço onde os contadores de histórias pedem para ser lidos. Este é um evento físico com hora e data marcada. Para muitos, isto é o mesmo que dizer que está em vias de extinção. 

Poderiam os autores e editoras sobreviver se apenas utilizassem este evento para a promoção da literatura? Só se quiserem fazer dinheiro duas vezes por ano. A verdade é que  já quase não sobrevivem agora. Não existem feiras das redes sociais e todos sabemos porquê: elas simplesmente não precisam. A tentativa de encontrar e prender leitores é permanente. Quem se pode dar ao luxo de não promover continuamente uma obra é quem não vende o livro, mas sim o nome próprio.

A palavra, por si só, pouco faz. Juntem muitas palavras e criem um livro. De repente, têm um objetivo de vendas, um prazo limite e possíveis consequências graves. O livro pode ser arte, mas a sua dimensão imaterial acaba aí.  As partes interessadas, sejam os autores ou as editoras, estão num estado permanente de divulgação do seu trabalho. Esta é a condição para se criar algo que  ninguém pediu. O que é que não precisava de feiras? As redes sociais. Pois bem, estão são utilizadas para tentar vender tudo o que existe. Às vezes o que não existe também, como o sentimento que um livro nos dá, mas é muito difícil vender sentimentos. A divulgação tem de ser deliberada, direcionada e, principalmente, contínua.

Beatriz Flores

0.3 Economia ou cultura?

Economia ou cultura? Economia e cultura. Ao refletirmos sobre a questão dum livro ser um elemento cultural ou um elemento económico, entendemos a necessidade  deste se inserir num plano cultural e inevitavelmente num plano económico. A cultura e a economia, apesar de diferentes, devem andar lado a lado, sendo que uma não vive sem a outra e vice-versa. O investimento na cultura pressupõe uma base económica e a necessidade do retorno, gerando uma indústria de cultura que possa subsistir e desenvolver-se. E o mercado livreiro, ramo desta indústria, não funciona de forma diferente. 

    Com o nascimento da imprensa e o desenvolvimento do mercado livreiro – em especial quando este se propõe, ao longo do tempo, cada vez mais acessível – o objeto do livro altera-se, deixando de ser apenas visto numa perspetiva de gosto e de conhecimento. Ao estarmos conscientes que vivemos num sistema capitalista é necessário refletir, numa perspetiva lucrativa,  sobre questões que concernem ao quão apelativa pode uma obra ser, por exemplo: O tema é relevante no panorama atual? O livro cumpre os requisitos estéticos para ser atrativo? Trará o lucro suficiente a quem o vende e escreve? São questões que talvez não se colocassem no século XIV quando era pedido a um monge que copiasse uma obra.

    A importância da indústria da cultura torna-se tal que o próprio Estado contribui com alguns programas de apoio económico tendo em vista o desenvolvimento da indústria da cultura uma vez que esta impacta diretamente o posicionamento face ao exterior – algo que num mundo cada vez mais globalizado se torna relevante.

    Podemos imaginar que um país que opte por não desenvolver a sua cultura devido a lacunas financeiras tenha tendência a continuar a empobrecer simultaneamente nas duas áreas. É preciso, por isso, que encaremos os livros e o mercado editorial como isso mesmo – mais uma indústria do mundo da cultura, com todas as implicações que mercado e cultura pressupõem. 

 

Soraia Pereira

7.3. Prémios literários, importações, exportações

Existem diversos prémios literários, alguns entregues a nível lusófono e outros a nível mundial. É claro que, aos olhos da crítica e da imprensa, os livros premiados a nível mundial são sempre mais valorizados e considerados de maior qualidade – o que leva a uma publicação quase instantânea por parte das editoras, que seguidamente promovem intensamente os respetivos livros.

Por contraste, os prémios lusófonos, à exceção do Prémio José Saramago, são olhados com menos interesse, algo que é bastante notável – isto aconteceu com o prémio Oceanos de 2023, em que a jovem escritora Valentina Silva Ferreira, autora de Vertigens, se viu apresentada como sendo brasileira pela imprensa, quando é portuguesa*. Este episódio leva a outro ponto dos prémios lusófonos, especialmente aqueles atribuídos exclusivamente a autores portugueses: os jovens autores/autoras, assim como escritores de minorias, não tendem a ser galardoados, havendo uma cultura de elitização da literatura – uma ideia que muitos críticos, assim como outras pessoas importantes do meio editorial, adotam e defendem.

Podemos assim concluir que quando é atribuído um prémio estrangeiro de renome, o livro correspondente é bom, tem de se conhecer e ler – há uma importação imediata. Quando é um prémio mais pequeno, à escala dos países de língua portuguesa, encontramos uma desvalorização das obras vencedoras, que recebem pouca atenção. Contudo, é importante apontar que, muitas vezes, as melhores obras que nos chegam às mãos não receberam nenhum prémio – assim podemos perguntar-nos qual é o verdadeiro valor de um prémio literário.

 

*Catorze autores portugueses entre 41 semifinalistas do prémio Oceanos de literatura - Showbiz - SAPO Mag


Mafalda Fontinha

20/10/2023

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

5.3. Um romance é igual à Enciclopédia Britânica?

 Numa resposta mais imediata: não, não são iguais.


Contando que possam ser pensados como livros que possuem características comuns – presença de uma capa, uma contracapa, uma lombada e um miolo -, até essas podem ser insubstanciais.

Di-lo-ia apoiada na forma como concebemos, até aos dias de hoje, aquilo que é um romance e na forma como o leitor se posiciona perante ele. Tratando-se de uma narrativa em prosa e/ou em verso, conta uma história, seja ela verídica ou não. A leitura é feita para ser apreciada e saboreada, não procurando dar respostas.  

As enciclopédias, por outro lado, servem como ferramentas de pesquisa, compêndios de conhecimento pessoal e auxiliares na história. Possuem o elemento da linearidade e da rapidez por parte de quem as consulta, concebendo a um propósito mais específico. Com o avançar da tecnologia e o surgimento de novos dispositivos, esta rapidez traduz-se de forma mais objetiva, pois é-nos possibilitado não só ter sempre uma enciclopédia à mão, como obter uma multiplicidade de respostas.

Ainda que atualmente possamos aceder e transportar connosco um romance de grandes dimensões e todos os volumes de uma enciclopédia, apenas através de um click, as experiências e os propósitos de ambos não mudam. Se num procuramos entretenimento, no outro pretendemos adquirir conhecimento.


Mariana Fernandes


3.3 Tradutor, revisor, designer, paginador, marqueteiro

 3. A Casa

3.3 Tradutor, revisor, designer, paginador, marqueteiro


O livro resulta de um trabalho de equipa, da interface de tipos de conhecimento diferentes na origem e no propósito. Esse trabalho de equipa nem sempre o é claramente: falo, por exemplo, do tradutor - uma profissão vista geralmente como solitária - que, sem se aperceber, trabalha para o mesmo produto final que um designer (mesmo sem nunca o ver nem saber o seu nome). Mesmo entre tradutor e revisor, dois ofícios mais diretamente ligados ao texto, pode não haver comunicação direta. No entanto, a comunicação, mesmo que indireta e até inconsciente, terá de existir, pois, afinal, fazem todos parte da mesma "casa", que os chamou para produzirem, cada um com as suas competências, um livro, que é o objeto moldado por todas estas mãos e outras ainda (as visíveis, por exemplo). Estas (3.3) são as mãos invisíveis.

Um romance é igual à Enciclopédia Britânica?

Em certo sentido, comparar um romance com a Enciclopédia Britânica pode revelar semelhanças superficiais. 

Ambos passaram pelo crivo de um editor de aquisições, encarregado de prospetar novos projetos para sua editora e planejar a grade de publicações do próximo ano. Também passaram pelo olhar atento de um editor de arte, responsável por dar vida ao projeto gráfico, à paginação e à capa do livro, e por uma gráfica que cuidou do processo de impressão. Em todas essas etapas, foram acompanhados de perto por um Editor, que orquestrou esse processo editorial do começo ao fim, sem perder o foco no conteúdo. 

Entretanto, ao olharmos para os detalhes do escopo de trabalho de cada um desses profissionais em contextos tão distintos (por um lado, um selo trade; por outro, um selo CTP), podemos concluir que, na realidade, um romance não é igual à Enciclopédia Britânica. 

Há quem diga que um Editor, após vivenciar a edição de manuais escolares, seria capaz de editar qualquer tipo de livro, mas o contrário nem sempre se aplicaria. Isto é, um editor de romances que por acaso se aventurasse no mercado de livros escolares muito provavelmente teria de enfrentar desafios complexos, esbarrando em novos processos e métodos de edição. Já um editor de manuais escolares, se por acaso voltasse a editar romances ou entrasse nesse mundo pela primeira vez, sentiria como se estivesse a passear por campos verdejantes, numa tarde serena de um verão tranquilo, à beira de um rio.

5.2. Novos suportes, velhos importes

 O homem com o seu percurso da terra tem vindo a investigar e revirar as suas formas de agir e práticas. Ao longo da sua existência o livro tem-se transformado desde os temas, aos modos e às aparências. Esta adaptação surge também da necessidade do livro, como objeto humano, de se adaptar a ele, à sua atualidade e mentalidade.

Ora, vivemos neste momento o surgimento de um novo paradigma, coisa que não vem a ser nova na história do livro, tendo em conta, por exemplo, que este já foi uma tábua, já chegou a ser um rolo e o conhecemos em formato de códex. As mudanças sempre levantam um rebuliço e uma sensação de perda do habitual. Neste momento falamos do livro digital e das suas novas configurações, já não em códex, já não em papel.

Assim, quando falamos em livro, hoje em dia, ainda vemos coexistir o antigo paradigma em papel e em códex, em conjunto com um novo suporte digital e deslizante. Por enquanto, não deixa de ser uma imitação daquilo que existe em papel, como aconteceu quando o livro impresso pretendeu imitar o manuscrito.

Contudo, como qualquer mudança de paradigma, levanta-se sempre a questão de que estamos perante um objeto novo e a resistência em aceitar os produtos da mudança como uma continuidade e não o fim. Afinal, novos caminhos não significam o final do caminho que deixamos para trás, senão o prosseguir de uma viagem.

O livro pode ser aqui encarado como uma plasticina que ao longo do tempo foi adquirindo diversas formas, mas que na essência é e continuará o mesmo. O que prova que estes novos suportes são novas formas daquilo que já existe, desconstruindo também e mais uma vez a definição de livro que pode ser tudo e não o ser. Assim, não estamos perante o temido fim do livro.

No meu tempo é que era bom! não deixa de ser o slogan de quem receia continuar o caminho por uma rota diferente pela qual ainda não sabe muito bem caminhar. Afinal nem a mudança nem o receio perante ela são novidade, acompanhando o ser humano todo ele cheio de mudança e de receios desde que se lembra.

Desta forma, podemos dizer que estamos perante novos suportes, mas velhos importes, mentalidades e bagagens, que entendem a novidade como um corte indesejado e não como aquilo que é um novo horizonte e a (des)construção do livro e daquilo que lhe é habitualmente associado.

Nazaré Matias

9.1 O futuro do livro eletrónico

    O livro eletrónico é cada vez mais popular entre os leitores. Esta popularidade poderá dever-se à facilidade da sua utilização, em comparação com os livros em papel. Para além de habitualmente serem mais baratos, é dada ao leitor a possibilidade de ter acesso a uma grande biblioteca num único dispositivo, seja este um telemóvel, computador, tablet ou e-reader (sendo possível sincronizar a leitura em mais do que um equipamento). Conseguimos aceder a um livro em qualquer lugar, a qualquer momento, e podemos optar pelo que preferimos ler na altura, uma vez que temos vários à disposição.

   Atualmente, com o desenvolvimento de dispositivos como os e-readers, a experiência de leitura de livros eletrónicos pode ser relativamente semelhante à de livros físicos. Podemos até customizar o livro ao nosso gosto: alterar a cor da folha, tamanho e tipo de letra, iluminação, etc. Em certas situações, eles facilitam muito a leitura, permitindo-nos, por exemplo, ler no escuro sem uma luz acesa.

   Devemos ter em conta que, por maior que seja o crescimento do mercado de livros eletrónicos, não está para breve a substituição por completo dos livros em papel. Muitos são os leitores que ainda preferem ter o livro físico nas suas mãos, porque consideram ser essa a melhor experiência. No entanto, não há como negar algumas das vantagens dos e-books, mesmo relacionadas com questões ambientais, um tema bastante discutido nos dias de hoje.

   A meu ver, o mercado do livro eletrónico vai crescer cada vez mais. Mas na verdade, o que realmente importa é o conteúdo do livro em si. Podemos consumi-lo em qualquer formato ou suporte e ele continuará a dizer-nos o mesmo.


Ana Marta Gouveia

3.2 - Marcar a diferença, conhecer o mercado

3. A casa
     3.2. Marcar a diferença, conhecer o mercado


    No mundo editorial, é essencial que o produto que se vende - o livro -, tenha destaque no meio de tantos outros. Para isso, é necessário conhecer o mercado em que se insere: o género literário, o público-alvo, se o tema é relevante ou não no momento, entre outros elementos. No entanto, de modo a marcar a diferença e destacar o produto em questão, também é necessário, por vezes, fugir à norma e aos parâmetros estabelecidos.
    
    Existem inúmeros exemplos de autores que são agora considerados cânones literários, que foram rejeitados por editoras, por não se enquadrarem no setor editorial a que essa pretende pertencer ou por não aparentar vir a dar lucro. Apesar de o conceito de conhecer o mercado ser bastante importante para o mundo editorial e, em especial, para as editoras, por vezes, para existir destaque e marcar a diferença num espaço diverso, é necessário ir contra a informação que se tem como certa, isto é, do que vai vender/trazer lucro. Apenas acreditar no produto e na sua mensagem, como sendo o que baste para que este seja relevante.
    
    Na minha opinião, marcar a diferença no mundo da edição de livros não é algo que se possa manufaturar. Os livros que mais destaque e atenção podem criar, por vezes, são os mais "orgânicos" e para os quais não há grandes expetativas iniciais. É claro que esta ideia de um livro ser orgânico e "vender-se sozinho" é um pouco irreal, devido a toda a publicidade e estratégias de venda que existem para o promover. No entanto, grandes livros, que são considerados como únicos e 'nunca antes feitos', começaram por uma aposta de um editor que acreditou na ideia (ou na pessoa por detrás desta), e não pensou apenas na venda.
    
    Por isso, o papel de uma editora (e todo o trabalho que esta desenvolve) é essencial para o sucesso de um livro, quer este marque a diferença, ou simplesmente venda e se enquadre nos parâmetros do mercado.


Ana Catarina Mogas
20/10/2023

9.2 O futuro do livro em papel

É habitual a discussão sobre o futuro do livro em papel, com o crescimento da popularidade dos formatos digitais, os amantes do livro questionam-se se o fim do livro físico estará perto.  

Há algumas razões que nos podem levar a esta previsão apocalíptica: cada vez mais o mundo exige rapidez, mobilidade e acessibilidade. Não é surpreendente então que muitos recorram aos seus dispositivos moveis para pôr a leitura em dia: já levamos o telemóvel para todo o lado, permite-nos ler no escuro, aumentar o tamanho das letras e até aceder a uma biblioteca inteira com um click. 

 
Por outro lado, muitos ainda consideram que nada é melhor que um livro físico, não se pode comparar um e-book à experiencia de ter um livro na mão, de sentir o seu cheiro e textura, não se pode dar o mesmo valor sentimental a um livro digital que se dá a um livro físico, e também não permite o mesmo nível de personalização com anotações e rabiscos. Talvez por estas razões, ainda hoje podemos testemunhar a adoração do livro físico.  O livro em papel tornou-se agora um símbolo de status entre verdadeiros amantes de livros e existe uma renovada paixão em colecioná-los. 

 
Apesar das preocupações de que um formato acabaria por substituir o outro, penso que podemos concluir que acabam por se complementar. Enquanto que o livro digital facilita bastante a sua utilização, o livro em papel vai continuar a ser necessário e apreciado. 


Catarina Vieira, 20/10/2023

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

10.2. Arte ou ciência?

 

Arte! Não… ciência! Espera, já sei, ambas! Ou então… nenhuma?

Afinal, qual delas? Para ler, arte. Para editar, ciência. Para escrever, ambas. Bem, mais ou menos. Para a mente de um cientista, ler há de ser ciência, para a mente de um artista, editar há de ser arte. Na minha opinião, o que quer que isso signifique, não há livro sem ciência, mas há livro sem arte. Então, qualquer cientista – ou seja, qualquer alguém que se dedique a estudar um saber objetivo na sua contemporaneidade, quer seja química ou linguística; sirva de exemplo um linguista que conheça, profundamente, as regras gramaticais da língua em que escreve e que fala – é escritor, mas nem todo o artista o é? A arte é subjetiva, a ciência, não. Quando leio, procuro uma história que encante, uma personagem que cative, mas sou incapaz de apreciar uma história com erros gramaticais e palavras mal escritas. Gralhas acontecem, está claro, não é sequer possível ter todo o conhecimento gramatical de uma língua. Mas há erros imperdoáveis! O artista precisa de um bocado de ciência, tal como o cientista (ou seja, um linguista) há de precisar de um bocado de arte. Prefiro, no entanto, ler o livro de um cientista (linguista!) desprovido de arte do que o de um artista ignorante para com a ciência. Não há estrutura científica que garanta o sucesso de um romance; é preciso ter arte. Mas, se a mesma pessoa escrever dois romances com enredos semelhantes: no primeiro, segue a estrutura que, cientificamente, atrai mais o leitor – pelo menos, na atual época em que vivemos – e, no segundo, acredita que a sua arte é suficiente para cativar o leitor, acredito, veementemente, que o primeiro romance seria melhor, pelo menos na maioria das vezes. Então, arte ou ciência? Ambas (ou nenhuma?), mas uma mais do que a outra (ou as duas de igual forma?). A ciência sobrepõe-se. Pelo menos, para mim, o que quer que isso signifique.


António F. Vicente, 18/10/2023

7.1 - Livrarias, alfarrabistas, hipermercados

Pedro F. Sousa

O que têm  em comum estes lugares? Livros? Revistas? Dicionários? Mapas? Talvez deva também acrescentar outros lugares quejandos como sejam uma área de serviço de um posto de abastecimento ou mesmo os escaparates com um vendedor à entrada do metro.

Todos estes lugares têm em comum pessoas à procura de respostas. Podem ser mais académicas, ou para lá da física das coisas, ou mesmo como fazer um belo pudim Abade Priscos. Voltando ao tema, é esperado encontrar nestes locais livros atuais, reedições de livros antigos, revistas, uma secção infantil, uma secção de assuntos quotidianos ou de várias áreas científicas. Em alguns casos têm mapas, guias de viagem ou mesmo livros sobre viagens.

A particularidade dos alfarrabistas, além de terem todas estas possibilidades, é de serem locais onde todos estes objetos, uns mais cedo que outros, irão por lá passar prontos para poder responder às perguntas que o leitor procura.

Edição das crónicas de Fernão Lopes em inglês terá "impacto significativo"

Citando a notícia:

A edição em inglês das crónicas de Fernão Lopes é apresentada na quinta-feira no Mosteiro da Batalha e a coordenadora da obra, Amélia Hutchinson, considera que terá "impacto significativo" no reconhecimento do papel de Portugal na história da Europa.

A coleção de cinco volumes "The Chronicles of Fernão Lopes" (Boydell & Brewer/Tamesis, 2023) levou 12 anos a concretizar e vai projetar o legado do cronista Fernão Lopes (1385-1460) entre académicos e investigadores, disse aquela responsável.

[...]

"Estamos certos de que esta edição irá evidenciar a importância da história de Portugal, país geograficamente pequeno, mas respeitado entre seus pares e participante ativo em momentos cruciais da história da Europa desde a época medieval".

A importância da tradução para inglês das crónicas de D. João I, D. Pedro I e de D. Fernando I é "enorme e terá impacto significativo para o conhecimento da História de Portugal no mundo".

Segundo Amélia Hutchinson, a publicação "surge da necessidade de proporcionar a um público internacional a obra de um dos maiores cronistas medievais do Ocidente da Europa", através do inglês.

A investigadora recordou que há muito que medievalistas ingleses e americanos solicitavam uma tradução integral das crónicas de Fernão Lopes.


Disponível em: Edição das crónicas de Fernão Lopes em inglês terá "impacto significativo" (rtp.pt)


Notas finais

 Meus caros, aqui estão as notas que encontrei após tentar ser o mais justo que posso. Qualquer queixa, agradeço que a façam até terça às 13...