O homem com o seu percurso da terra tem vindo a investigar e revirar as suas formas de agir e práticas. Ao longo da sua existência o livro tem-se transformado desde os temas, aos modos e às aparências. Esta adaptação surge também da necessidade do livro, como objeto humano, de se adaptar a ele, à sua atualidade e mentalidade.
Ora, vivemos neste momento o surgimento de um novo paradigma, coisa que não
vem a ser nova na história do livro, tendo em conta, por exemplo, que este já
foi uma tábua, já chegou a ser um rolo e o conhecemos em formato de códex. As mudanças sempre levantam um rebuliço e uma sensação de perda do habitual. Neste
momento falamos do livro digital e das suas novas configurações, já não em
códex, já não em papel.
Assim, quando falamos em livro, hoje em dia, ainda vemos coexistir o antigo
paradigma em papel e em códex, em conjunto com um novo suporte digital e
deslizante. Por enquanto, não deixa de ser uma imitação daquilo que existe em
papel, como aconteceu quando o livro impresso pretendeu imitar o manuscrito.
Contudo, como qualquer mudança de paradigma, levanta-se sempre a questão de
que estamos perante um objeto novo e a resistência em aceitar os produtos da
mudança como uma continuidade e não o fim. Afinal, novos caminhos não significam
o final do caminho que deixamos para trás, senão o prosseguir de uma viagem.
O livro pode ser aqui encarado como uma plasticina que ao longo do tempo
foi adquirindo diversas formas, mas que na essência é e continuará o mesmo. O
que prova que estes novos suportes são novas formas daquilo que já existe,
desconstruindo também e mais uma vez a definição de livro que pode ser tudo e
não o ser. Assim, não estamos perante o temido fim do livro.
No meu tempo é que era bom! não deixa de ser o slogan de quem receia
continuar o caminho por uma rota diferente pela qual ainda não sabe muito bem
caminhar. Afinal nem a mudança nem o receio perante ela são novidade,
acompanhando o ser humano todo ele cheio de mudança e de receios desde que se
lembra.
Desta forma, podemos dizer que estamos perante novos suportes, mas velhos
importes, mentalidades e bagagens, que entendem a novidade como um corte
indesejado e não como aquilo que é um novo horizonte e a (des)construção do
livro e daquilo que lhe é habitualmente associado.
Nazaré Matias
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