sexta-feira, 20 de outubro de 2023

5.2. Novos suportes, velhos importes

 O homem com o seu percurso da terra tem vindo a investigar e revirar as suas formas de agir e práticas. Ao longo da sua existência o livro tem-se transformado desde os temas, aos modos e às aparências. Esta adaptação surge também da necessidade do livro, como objeto humano, de se adaptar a ele, à sua atualidade e mentalidade.

Ora, vivemos neste momento o surgimento de um novo paradigma, coisa que não vem a ser nova na história do livro, tendo em conta, por exemplo, que este já foi uma tábua, já chegou a ser um rolo e o conhecemos em formato de códex. As mudanças sempre levantam um rebuliço e uma sensação de perda do habitual. Neste momento falamos do livro digital e das suas novas configurações, já não em códex, já não em papel.

Assim, quando falamos em livro, hoje em dia, ainda vemos coexistir o antigo paradigma em papel e em códex, em conjunto com um novo suporte digital e deslizante. Por enquanto, não deixa de ser uma imitação daquilo que existe em papel, como aconteceu quando o livro impresso pretendeu imitar o manuscrito.

Contudo, como qualquer mudança de paradigma, levanta-se sempre a questão de que estamos perante um objeto novo e a resistência em aceitar os produtos da mudança como uma continuidade e não o fim. Afinal, novos caminhos não significam o final do caminho que deixamos para trás, senão o prosseguir de uma viagem.

O livro pode ser aqui encarado como uma plasticina que ao longo do tempo foi adquirindo diversas formas, mas que na essência é e continuará o mesmo. O que prova que estes novos suportes são novas formas daquilo que já existe, desconstruindo também e mais uma vez a definição de livro que pode ser tudo e não o ser. Assim, não estamos perante o temido fim do livro.

No meu tempo é que era bom! não deixa de ser o slogan de quem receia continuar o caminho por uma rota diferente pela qual ainda não sabe muito bem caminhar. Afinal nem a mudança nem o receio perante ela são novidade, acompanhando o ser humano todo ele cheio de mudança e de receios desde que se lembra.

Desta forma, podemos dizer que estamos perante novos suportes, mas velhos importes, mentalidades e bagagens, que entendem a novidade como um corte indesejado e não como aquilo que é um novo horizonte e a (des)construção do livro e daquilo que lhe é habitualmente associado.

Nazaré Matias

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