quarta-feira, 18 de outubro de 2023

10.2. Arte ou ciência?

 

Arte! Não… ciência! Espera, já sei, ambas! Ou então… nenhuma?

Afinal, qual delas? Para ler, arte. Para editar, ciência. Para escrever, ambas. Bem, mais ou menos. Para a mente de um cientista, ler há de ser ciência, para a mente de um artista, editar há de ser arte. Na minha opinião, o que quer que isso signifique, não há livro sem ciência, mas há livro sem arte. Então, qualquer cientista – ou seja, qualquer alguém que se dedique a estudar um saber objetivo na sua contemporaneidade, quer seja química ou linguística; sirva de exemplo um linguista que conheça, profundamente, as regras gramaticais da língua em que escreve e que fala – é escritor, mas nem todo o artista o é? A arte é subjetiva, a ciência, não. Quando leio, procuro uma história que encante, uma personagem que cative, mas sou incapaz de apreciar uma história com erros gramaticais e palavras mal escritas. Gralhas acontecem, está claro, não é sequer possível ter todo o conhecimento gramatical de uma língua. Mas há erros imperdoáveis! O artista precisa de um bocado de ciência, tal como o cientista (ou seja, um linguista) há de precisar de um bocado de arte. Prefiro, no entanto, ler o livro de um cientista (linguista!) desprovido de arte do que o de um artista ignorante para com a ciência. Não há estrutura científica que garanta o sucesso de um romance; é preciso ter arte. Mas, se a mesma pessoa escrever dois romances com enredos semelhantes: no primeiro, segue a estrutura que, cientificamente, atrai mais o leitor – pelo menos, na atual época em que vivemos – e, no segundo, acredita que a sua arte é suficiente para cativar o leitor, acredito, veementemente, que o primeiro romance seria melhor, pelo menos na maioria das vezes. Então, arte ou ciência? Ambas (ou nenhuma?), mas uma mais do que a outra (ou as duas de igual forma?). A ciência sobrepõe-se. Pelo menos, para mim, o que quer que isso signifique.


António F. Vicente, 18/10/2023

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