sábado, 23 de março de 2024

Texto editado vs. não editado

 Aqui, penso que conseguem ver. É uma brincadeira, mas faz algum sentido faz

Claro que, no caso de um texto literário, já não é tão fácil ver qual é qual.


quarta-feira, 20 de março de 2024

Aula 6 e exercício para a próxima aula

1. Primeiro o exercício para a Páscoa: 

Faça um livro para crianças (ou não) de 20-22 páginas, com a medida ideal de 1-3 frases breves q.b. por página, 

Pode usar uma das várias máquinas que já apresentámos: 

  • 1-2a-2b-3, ou 
  • Esta é a história de __ que, mais que tudo, quer __ mas não pode porque __. 
  • ou a estrutura da BD
  • ou outro andaime qualquer. 

Modelo de excelência do método SER (Simplicidade, Economia, Rigor)? Ora, o filme Pai e Filha, de Michael Dudok de Wit.  

2. Exercício 14, de revisão. 

3. Questões ideológicas e de género 

3.1. Insuspeito, o caso da exposição na faculdade

3.2. O depoimento da Senadora Kattie Britt, em resposta ao Discurso à nação do Presidente Biden, na cozinha. 

3.2.1. A sua paródia aqui

3.2.2. Também aqui a comparação entre a voz naquele depoimento e noutros. 

Exercício 10 (Don't bullshit me)

Don't bullshit me. Don't make shit up.
Don't look me in the eyes. Just go.
With your fancy discourses I am fed up
as with your fake goodbyes. Don't make a scene, so low

Don't say you're sorry or that life
sometimes is like this: that everyone forgets;
that the world and time heal the wounds, my wife,
I repeat: begone, take your assets

Take them, take everything
that we once thought we shared:
books, sculptures, even my ring,
the records and photos for which we cared.

Don't leave a record or adress,
My love, go fuck yourself, I confess.

terça-feira, 19 de março de 2024

Notícias

 Partilho com os colegas e com o professor estas notícias.


Número de livros censurados está a crescer: sector livreiro mundial lança declaração de apoio à liberdade de expressão - Expresso


Para falar no sono delas, há um livro baseado em casos clínicos reais de doenças do sono em mulheres - Expresso

Exercícios 12 e 13

 Exercício 12

 

A morte: Ele nem imagina que vai morrer esfaqueado no fórum!

 

Roubo: Mais uns segundos e o trono não será mais dele…

 

Concurso: Hihihi, não sabe que não pode participar no concurso por ser só para mulheres!

 

Publicar: Que parvo! Pensa que o publicaremos!? Até parece, só publicamos os amigos!

 

Posse: Coitado… Amanhã a esta hora nada disto será seu… Para felicidade minha, será meu!

 

O frete: Ele não faz ideia do que o espera! Uma feira romana! Ele nem gosta, mas vai ter de fazer o frete!!

 

Queijada de Sintra: Aquele de certeza que quer uma queijada, mas vai ficar desiludido… Levo a última!

 

As escadas: Olha-me para aquela, não vê que o elevador não funciona? Vá de escadas, para aprender!

 


Exercício 13

 

Avião

Num avião…

- Água ou café?

- Uma água, por favor.

- Errou… É café!

 

A desilusão

- Tem Coca Cola?

- Sim!

- Então era uma, por favor.

- Estava a brincar, só temos Pepsi.

- …

 

Céu ou inferno?

- Vim parar ao céu, certo?

- O quê? Deixa-me lá agarrar nesta lista onde diz tudo o que fizeste…

 

Testemunha de Jeová

- Quer ouvir a palavra do Senhor?

- Não.

 

Olhos que não veem

- Eia Alberto, olha-me lá este livro!

- João, somos amigos há trinta anos e ainda te esqueces que sou cego?

 

O desgraçado forreta

- Por 120tem acesso a este livro que vai mudar a sua vida!

- Possa! Para isso mais vale continuar na desgraça!

Usar a ferramenta certa (e os vossos cartuns)

 Um bom profissional não depende só do talento, convém usar a ferramenta adequada. Se Shakespeare não tiver caneta, eu escrevo melhor que ele. E, mesmo não escrevndo melhor que Camões, posso rimar telemóvel com automóvel e ele não podia. Para um anagrama, a ferramenta é a tesoura, para pendurar um quadro um martelo será mais adequado que uma folha de papel.  

Falando de formas e fôrmas e modelos/templates, estes ajudam-nos bastante. Com raquetes de neve, ganho uma corrida ao melhor atleta, se estivermos numa floresta com neve.  

Com as vossas BDs, descobrem o fácil que é estruturar um texto - e como este fica narrativo, mesmo que não fosse essa a nossa intenção. Com o exercício da anedota, descobrimos capacidades inauditas de síntese, excelentes para um dossiê de imprensa ou uma contracapa. 

Estes exercícios podem ser vistos ao contrário. O modelo pode ser aplicado a textos escritos por outros,  que aliás é por definição o núcleo do trabalho editorial. 

E podemos devemos fazer perguntas ao texto: estás bem doseado? qual o motivo central? fizeste boas escolhas? qual a pertinência de seres publicado? a quem (além de ao Menino Jesus) interessarás? que tipo de leitor prevês (e que compteências lhe pedes)? como te estruturas? o que te falta? o que tens a mais? 

etc. 

Agora, alguns dos vossos exercícios, a serem devolvidos na aula 6. É possível (já não vou para novo) que haja cromos repetidos ou algum falte. 


























segunda-feira, 18 de março de 2024

Tradução do poema "Não Inventes" para espanhol

 No inventes

Déjate de mierdas. No inventes.

No me mires a los ojos. Sal, nada más.

Ahórrate los discursos elocuentes

y la farsa del adiós. No montes escenas.


No digas que lo sientes, o que la vida

a veces es así: que todo se desvanece,

que el mundo y el tiempo curan cualquier herida.

Te repito, mi amor: desaparece.


Y llévate lo que quieras de cuanto

un día sospechamos ambos guardar:

los libros, las esculturas en palo santo,

los discos, los retratos, el billar.


No dejes tu dirección. Por favor:

lo que quiero es que te den, mi amor.


Nazaré D. M.

sábado, 16 de março de 2024

Exercício da aula de 12 de março

 

Aula 12 de março de 2024

Exercício 12

2ªf

- Amanhã é segunda-feira.

 

Notícia.

- Tenho uma notícia para ti, não te preocupes, que o fim é igual para todos.

 

Tenho a dizer..

- O jantar é peixe cozido.

 

Há sempre opção

- É obrigatório, e é para avaliação.

 

Casa

- A porta fechou-se, e lá dentro não estava ninguém.

 

Temos escolha?

- A escolha é vossa…sempre.

 

Liberdade?

- Façam como quiserem…

 

Há uma escolha

- Vens?

 

Exercício 13

Eventualmente, acaba

- Então e no fim?

- Eles não ficam juntos.

 

Não contes

-Achei que devias saber…

- Às vezes, escolho a ignorância.

 

Vens?

- Então e tu, vais mesmo ficar, não vens?

- Sim, vou ficar.

 

Não, não era um não. Mas também não era um sim.

- Mas disseste que não?

- Não. Mas também não disse que sim.

 

Irei sempre

- Olha, e se formos…

- Vamos!

 

Feliz!

- Ele trouxe-me flores!

- Boa, mas vão morrer.

 

Beatriz C. M. Silvestre

sexta-feira, 15 de março de 2024

quinta-feira, 14 de março de 2024

Tradução do poema "Não Inventes"

Don't give me your bullshit


Don't give me your bullshit. Don't preach.

Don't look me in the eye. Just go.

And spare me any great speech

or the lies of goodbyes. Don't put on a show.


Don't tell me you're sorry or that it's life

sometimes: It kills off all light 

that the world and time heal any strife

I'll say it again, my love: get ou of my sight.


And take all that you want

from what we thought we would one day share

the books, the decorative elephant

the records, the portraits, the chair.


Don't leave an address. I'm begging:

just go fuck yourself, my darling.



Catarina Vieira

Tradução do poema "Não Inventes"

Don’t give me that shit. Don’t even try.

Don’t look me in the eyes. Just quit.

And spare me the speeches to justify

And the farces of goodbye. Don’t throw a fit.

 

Don’t tell me you’re sorry or that living

Is like this sometimes: that we forget a lot;

That the world and time heals any suffering.

I’ll say it again, my love: Get lost.

 

And take whatever you want from

What we once thought we shared:

The books, the sculptures, the rum,

The cd’s, the portraits, the bed.

 

Don’t leave any addresses. Kindly:

I want you to go fuck yourself, my lovely.


Ana Marta Gouveia

quarta-feira, 13 de março de 2024

Tradução do poema "Não Inventes" para grego antigo

Tentativa de tradução do poema para grego antigo

Principal dificuldade: metade das palavras não existe.

 


Μὴ ἐπίψευδε

 

Μὴ γὰρ ἐμοὶ σν σκυβάλοις προσέρχου. Μὴ ἐπιψευδε.

Μὴ ἐμοι εἰς τοὺς ὀφθαλμούς βλέπε. Ἄπαγε.

Καὶ τοὺς λόγους καλοὺς ἀποφεῦγε

καὶ τὰς ἀπάτας τῆς ἀποτάξεως. Μὴ ἔργα πράττε.

 

Μὴ γὰρ λέγε ὅτι θρηνεῖς ἢν ὅτι ὁ βίος

ποτὲ οὕτῶς ἐστιν· ὅτι πάντα ληθητά ἐστιν·

ὅτι πάσας τὰς πληγὰς ἰῶνται ὁ κόσμος καὶ ὁ χρόνος.

Ἐπαναλαμβάνω, ὦ ἀγάπη μου· Ἄφευγε.

 

Καὶ γάρ τι ὅσων ὅτι βούλει ἐκ πάντων

ποτε κοινωνῆσαι ἐθελήσαμεν λαβέ·

τὰ βιβλία, τοὺς γλύπτας τοῦ ξύλου,

τοὺς δίσκους, τὰς εἰκόνας, τὸ παίγνιον.

 

Μὴ τόπους ἀφίει. Παρακαλῶ·

θέλῶ να γαμήσου, ὦ ἀγάπη μου.


António F. Vicente

Aula 5 (13(3): questões éticas no mundo da edição

Exercícios 11, 12 e 13. Fôrmas e formatos. 

1.1. Há um modelo e é útil usá-lo, mas depois até pode ser vantajoso desviarmo-nos dele. 

1.2. A má formulação do exercício 11: «Este prémio discriminatório é legítimo?!» Porquê aquela exclamação?! Porquê aquele conteúdo, já a dirigir a resposta e a censurar o concurso? Havia má fé da minha parte na formulação, pois pressupunha logo que considerava aquilo errado. Fica como amostra de como o modo como formulamos as questões pode logo à partida viciar essas mesmas questões e condicionar (neste caso, mesmo intimidar) as respostas. 

1.3. Vê o que faço, não o que digo que faço. 

1.4. Editar é escolher. 

1.5. Modelo/molde de história: X quer ir do ponto A ao ponto B, mas é desviado para C. 

 2. Quando quem diz é (talvez sem dar conta) quem é. 

2.1. É legítimo, em nome do «Bem», despedir os «Maus»? E como decidi eu quem são os Maus? Eu = Bom, «eles» = maus», é isso?


2.2. O caso de António José da Silva. E a sua lição; «Todos somos homens de ganhar, o que desautoriza é o modo.»

3. Metástases de Alberto Pimenta. Anagramas perfeitos (completos) verso a verso com uma surpresa mágica no fim. O resultado pouco importa, o poema é a resolução de um desafio que se apresentava impossível. 

O processo é o prodígio. 

Uma boa volta a uma conhecida história. 

terça-feira, 12 de março de 2024

No inventi

Tentativa de tradução do poema Não Inventes para italiano 


Inês Vidal 


No inventi

No mi vieni com cose. No inventi.

No guardi miei occhi. Vadi appena.

Mi salva a discorsi eloquenti

e alle bufali di oddio. No facci sceni.

No dire che lamenti o che la vita

a volte è cosi: che tuto dimentica,

che il mondo e il tempo guariscono qualunque ferite.

Ripeto, amore mio: svaniscete.

Porta lo che te voglia di tutti quanti

un giorno sospettiamo condividere:

i libri, le sculture in legno,

i dischi, i retrati, lo biliardo.

No lascis indirizzi. Per favore:

vorrei che ti scoppi, amore mio.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Feira do livro em Campo de Ourique

 O mercado está de vento em popa. Presumo que, como aprendizes de parceiros do mundo editorial, estejam atentos:


Faixa bónus e exercício 11: este prémio discriminatório é legítimo?! (Sff respostas não muito longas)





domingo, 10 de março de 2024

Tradução do poema "Não inventes" para francês

 N’invente pas

 

Ne m’emmerde plus. N’invente pas.

Ne me regarde pas dans les yeux et sors sans peine.

Épargne-moi ces discours-là

et les farces des adieux. Ne fais plus de scènes.

 

Ne dis pas que t’es désolée ou que dans la vie

le monde et le temps guérissent tout ;

que c’est juste comme ça, que tout s’oublie.

Je répète, mon amour : je m’en fous.

 

Emporte avec toi tout ce que tu veux

de ce que l’on a voulu partager :

les livres, les sculptures de mes aïeux,

les disques, les photos et la table à manger.

 

Ne laisse pas d’adresse. Je t’en supplie :

je veux que tu te casses, ma chérie.

sábado, 9 de março de 2024

Tentativa de tradução do poema "Não inventes"

Don't play me

Don't make shit up. Don't play me.
Don't look me in the eye. Just leave.
And spare me all your crazy
talk and false goodbyes. Don't make a scene.

Don't say you're sorry, that some days
life is this way: that all is forgotten;
that the world and time will heal any pain,
I'll ask again, my sweet: be gone.

And take anything you want to,
Of what we once presumed to share:
the books, the CDs, the fondue,
the pictures, the massage chair.

Don't leave an address, please:
I want you to fuck yourself, my sweet.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Sumário aula 4 (6/3)

 1. O princípio do constrangimento 

1.1. ajuda a libertar cabeça e mão. Parece um paradoxo mas é como o soneto de Camões «Amor é fogo que arde sem se ver». Aliás, como observou Jorge Luis Borges num ensaio breve mas luminoso sobre Oscar Wilde (ou luminoso precisamente porque breve), os oxímoros e outros paradoxos são muitas vezes a expressão mais eloquente do bom senso. 

1.2. OuLiPo. Quem se quiser interessar pelo OuLiPo, pode fazer pesquisas. Há vários livros com os seus exercícios e constrangimentos, além de livros concretos (ficção, poemas, peças) esctiros escritos pelos seus membros. 

1.3. Importante é usar o instrumento adequado. Muita gente não o faz e depois falha, não por falta de jeito, apenas por falta de presença de espírito. Um exemplo flagrante (não dado em aula) é o anagrama. Basta pegarmos num nome e alterar a ordem das letras. O OuLiPo «inventou» o Belo Casamento: oferecer a um par de namorados um anagrama com os nomes de ambos. Aqui torna-se claro que, se fizermos só contas de cabeça, será muito diferente de usarmos a caneta para as várias tentativas. Mas há um instrumento de escrita ainda melhor: a tesoura. Se escrevermos as palavras a usar no jogo e depois cortarmos as letras com uma tesoura, fica muito mais fácil baralhar as letras e vê-las como aquilo que doravante são, as peças do jogo com que vamos jogar. 

2. Fizemos os exercícios 8-10. Notável como toda a gente (pelo menos 100% das que ouvimos em aula) conseguiu fazer uma boa história com apenas três palavras, obedecendo ao constrangimento imposto.  

3. Mini masterclass com Rita Ray

E tivemos uma breve visita de Rita Ray, tradutora do português e do francês para língua bangla. 


4. Analisámos também sobre a capa da Vogue Ukraine nº5/2024. Não tanto para falarmos de política (embora sejamos adultos e também haja edição de política e o docente da cadeira considere que o ato de editar também é político) mas porque a organização visual é tão importante para o texto verbal como para o texto visual (cf. Paul Ricoeur ou Umberto Eco).  

4.1. « La dernière couverture numérique de l'édition 5 de Vogue Ukraine, avec le mannequin Karina Mazyar entourée de cadets de l'école militaire Ivan Bohun de Kiev Lyceum. La guerre est autant fun aujourd'hui qu'en 40 ou en 14. » (G. Duflot)*


4.2. A este propósito, o docente referiu que cresceu com a ideia de que ser cosmopolita era uma coisa boa. A guerra voltou tornar o termo uma acusação, de momento sobretudo na Ucrânia e na Rússia. 

* «A última capa da edição 5 de Vogue Ukraine, com a manequim Karina Mazyar rodeada de cadetes do Colégio Militar Ivan Bohun de Kiev Lyceum. A guerra é de novo tão fun hoje como em 1940 ou 1914» [Trad. livre]. 


 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Alguns microcontos de três tristes palavras

 

Luísa: E perdeu tudo.

Parti a unha. Não sabe ler. O cão morreu. Morrem no fim.

Francisca: A sobremesa acabou.

Afinal ela morreu. A igreja ardeu. Ela disse não.

Vanessa: As abelhas morrerão.

Maria: Ela não envelheceu.

O Estrela perdeu. A água acabou.

Não estou certa.

Inês: Pariu. Estava morto.

Zagalo: Bolas, é cozido.

Próxima paragem, Telheiras.

Mãe? Mãe?! MÃE!!!!!

 

Exercício cadaver esquisito inverso

 

Lago


Há um lago dum tamanho horrível, que ela vê do porto abandonado. Muito do que esse lago suscita, intriga-a imenso e ela não consegue evitar aproximar-se. Mesmo sabendo que não devia, pois as suas águas escuras têm perigos desconhecidos, ela não resiste à tentação de mergulhar os pés.

A água gélida parece queimar-lhos, mas ela não recua. Alguma coisa a puxa ainda mais para a frente.

Largando para trás os braços deixa-se cair naquela água pelos tornozelos. Nos olhos vê inúmeras caras, flashando a cada tentativa de piscar os olhos. Mortos! Mortos por todo o lado. É tudo quanto aquele lago tem para lhe oferecer, fazendo lembrar o solo sangrento de uma terra de ninguém.

Horrorizada, a jovem tenta nadar para a superfície, mas os seus membros não mexem. O seu corpo está congelado e a única coisa que ela pode fazer é olhar em volta e esperar que a sua cara se junte aos inúmeros a seu redor.

Um murmurar quebra o silêncio agoniante. O som vem das profundezas do lago. É indistinguível mas sabe-se ser um som. Ela sabe que é um fonema, pelo menos isso...

Os seus sentidos tornam-se turvos com o medo e as alucinações começam. Distinguir o real do imaginário torna-se impossível naquelas temperaturas. Ela vislumbra algo nas profundezas que só pode ser uma ilusão da sua frágil mente. Afinal, uma mulher vestida de branco com uma luz iluminando a sua bela face, só pode ser uma ilusão. Ou talvez um anjo.

Para se tentar controlar, a rapariga no lago tenta pensar em qualquer coisa. Qualquer coisa! Mas a única coisa que lhe vem à cabeça é um belo rolo de carne que a sua mãe costumava fazer quando era mais jovem. Levava atum, o que era estranho, mas traçava com a Dijon de forma agradável, com a pimenta rosa, com os polvilhares de rosmaninho e...

-Sara!! Está na mesa!

Ah...adormecera em casa dos pais. Nos pés sente pingas afiadas.

-Porque é que chove dentro de casa?

-Han?

-ESTÁ A PINGAR!! NO SOFÁ!

-AH!!! O TEU PAI ESTÁ NO BANHO! ÀS VEZES ACONTECE! É muito grande?

-Sim...está aqui uma poça ao lado do sofá?

-Quão grande?

-Tem um tamanho horrível...

Uma convidada-surpresa: Rita Ray

 Hoje, para além do nosso trabalho normal (exercícios, exercícios, exercícios!) teremos a presença de Rita Ray, tradutora de Português para Bangla e durante muitos anos professora na Universidade de Jadavpur, em Kolkata (Calcutá). 

Lamento o anúncio em cima da hora, mas esta é uma presença não agendada e agradeço desde já a cortesia da ilustre convidada. 

terça-feira, 5 de março de 2024

Sôbolos rios que vão

Sôbolos rios que vão

acompanhados de cardume

em direção à escuridão

como de costume.


Um pássaro implume 

permanece no chão

lá bem no cume

à espreita do pão.


A raposa que é tão esperta

tem o pássaro em mente

pois a fome já aperta.


Corre sem rumo já dormente

abre a boca e acerta

na morte do pássaro demente.



Ana Marta Gouveia

Catarina Vieira

Inês Martins

Nazaré Matias



Doces Mentiras - Exercício de escrita

                     Doces Mentiras

Sôbolos rios que vão - Exercício


Sôbolos rios que vão

contorcendo-se pela encosta

soam ventos em resposta

aos problemas que virão.


Sabe-se bem que o rei gosta

de uma grande multidão

e observá-la da encosta

traz-lhe a maior satisfação.


Por ela o rei chama a chuva,

mas também vem o tormento

de apanhar chuva sem luva.


Chega o momento,

e ela cai turva.

O céu permanece cinzento.


Catarina

Marta

Nazaré

Inês

Exercício de escrita (prosa)

 [Sem título]

    Era uma vez um dragão. Este dragão guardava o seu tesouro mais precioso no seu esconderijo subterrâneo secreto. Saía uma vez por semana para esticar as asas. Quando saía, para garantir que ninguém chegava ao tesouro sem que ele desse conta, deixava-o atado por um fio invisível a uma enorme campainha.

    Durante séculos pôde esticar as suas asas tranquilamente nos seus passeios semanais. Até que um dia… Ele ouviu. Aquele som tão agudo que contava nunca ter de ouvir. Seria da cabeça dele? Quereria ele ouvir a campainha, ansiando companhia? Passaram-se uns segundos até que ele finalmente reagisse. Claro que não queria companhia! O esconderijo era secreto para evitar isso mesmo. Ainda assim, tentou ver quem ou o que era sem ser visto.

    Ao espreitar, avistou um pobre ser humano, assustado com o som da campainha e a noção de que estava prestes a ser apanhado. O humano ajoelhou-se e juntou as mãos implorando para que o dragão não lhe fizesse nada. O dragão riu-se interiormente, pensando que podia aproveitar aquele momento para se divertir às custas daquele pobre coitado, que finalmente o tirava daquele tédio. Não, não o faria. Mesmo depois de tanto tempo enfiado naquele buraco, que era a sua casa, mantinha os seus princípios e bom senso. Aproximou-se do homem e esticou-lhe uma asa. O pobre tinha um ar assustado, mas porquê se o dragão até estava a ser simpático com ele? Não era o dragão mais assustador de todos. Nem era particularmente grande. Nem tinha intenção de o comer. Conhecia um dragão que por esta altura já o tinha devorado. O dragão tentou mostrar um ar inocente. Brincou com o humano, dando-lhe pequenos toques de asa, mas isso só parecia assustá-lo mais. Para deixar claras as suas boas intenções. Decidiu mostrar-lhe o seu tesouro.

    Quando o dragão abriu o esconderijo, os olhos do humano arregalaram-se. O medo deu lugar à cobiça. Diante daquele tesouro, o humano mudou de ideias e decidiu que iria roubá-lo. “Ingrato!”, pensou o dragão, percebendo a nova intenção do humano. “Roubar o meu tesouro? Nem pensar!” Bateu-lhe com a asa e devorou-o ali mesmo e depressa que já estava na hora da sesta.

 

Luísa

Margarida

Marcela

Beatriz

Soneto "Solidão"

Sôbolos rios que vão,

por onde choro,

pássaros cantam em coro

como uma noite de verão.


As nuvens têm sempre o decoro

de chorar em união,

e eu sempre adoro

ouvi-las em canção.


Nas margens desses rios

o meu ser vagueia,

perdido em pensamentos solitários


enquanto desejo por companhia alheia,

embrulhado na mente de fios

à beira desta luz que encandeia.


Inês Martins
Catarina Vieira
Ana Marta Gouveia
Nazaré Matias


segunda-feira, 4 de março de 2024

Uma mosca sem valor

Uma mosca sem valor

pousa com a mesma alegria

na careca de um doutor

como em qualquer porcaria


Pousa em doces e salgados

esvoaça descontraída

mas sempre indagando os fados

da taberna que amofina


Quão triste que há de ser

a vida de quem não pousa

como a mosca a querer viver

mas que ao viver não ousa.


João Narciso

Beatriz Flores

António Vicente

Uma mosca sem valor – Exercício


Uma mosca sem valor

Pousa com a mesma alegria

Na careca de um doutor

Como em qualquer porcaria.


Vejo o mundo sem cor

através de meus olhos,

não alcanço o sabor

de quem tem sonhos aos molhos.


Abelha mas sem ferrão

não pousa de flor em flor

voa para longe do bulcão,

da tempestade tem temor.


Mas continua sempre à procura

de um lugar para existir,

de um lugar com frescura.

Pousa e fica a refletir.



António F. Vicente
Beatriz Flores
João Narciso

Soneto "A Eduarda"

 Sôbolos rios que vão

e entram pelo mar adentro,

nada o peixinho ao centro

e no céu soa o trovão.


Assim teme o encontro

com o grande tubarão,

à procura de um antro

encontra um camarão.


Ambos temem o destino

que certamente os aguarda.

Deste tubarão cretino


Escapam pela retaguarda.

Que grande desatino,

Ele gostava da Eduarda!


Inês 

Catarina

Marta

Nazaré

Soneto "Transforma-se o amador na cousa amada" - Exercício de escrita

Transforma-se o amador na cousa amada

e a cousa amada na dor de cabeça,

vai tudo acabar na doença

nesta louca jornada.


Faz com que qualquer pessoa enlouqueça

Ao deparar-se com esta encruzilhada,

O homem mais firme tropeça

E acaba numa palhaçada.


Mas se há cousa em que acredito

É que quando a vida fica confusa

Acabamos por achar o nosso propósito,


No final, quem vence é a musa

Que neste dia bendito

Da nossa inspiração abusa.



Ana Luísa Vasconcelos
Mafalda Fontinha
Maria Clara Alves
Maria Fonseca
Mariana Fernandes


Soneto: Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada

O seu coração caído no chão

Podre de solidão

Alma magoada


Vendo o fim da sua paixão

acaba em nada

Está a caminho do caixão

de si mesmo despojada


As consequências do desgosto

em que uma delas é a morte

E onde fica tudo exposto


Ao amador há que desejar sorte

porque já estamos em Agosto

e, para isto, é preciso ser forte


Ana Luísa Vasconcelos

Mafalda Fontinha

Maria Clara Alves

Maria Fonseca

Mariana Fernandes

Exercício de escrita - Prosa

 Tocaram à campainha. Nunca respondo quando tocam à campainha. Não estou à espera de ninguém, então finjo que não é comigo. Graças à minha mente neurótica, é preciso que a toquem três vezes para que eu me levante do sofá. E, mesmo assim, há dias que nem isso. Acomodei-me nesta solidão tão confortável. E a campainha? Continua a tocar.

Parou. Agora sim, posso finalmente voltar a ver o Preço Certo. Nem acredito que o Fernando Mendes perdeu tanto peso! Detesto o Fernando Mendes como detesto a campainha. Tocou a terceira vez, lá vou eu.

Pego no intercomunicador e digo "Alô?". Ninguém responde. Abro a porta e desço alguns degraus, até conseguir ver a entrada do prédio. Vejo uma mulher parada. Está bem vestida, mas parece assustada. Terá sido assaltada? Não, talvez não. Sorri para mim e faz-me sinal, como quem pergunta se se pode aproximar. Queria dizer que não, mas, como gosto de acreditar que sou boa pessoa... que suba!

Sobe e explica-me que foi, de facto, assaltada. Tenho um sexto sentido para estas coisas! Pede-me para usar o meu telemóvel, para chamar alguém que a venha buscar. Sou boa gente, de facto. Mas também vejo muitos filmes de suspense. Penso que pode ser uma armadilha e fico indecisa. Por sorte, tenho o telemóvel no bolso, mas percebo que está sem bateria. Então, lá tenho de a deixar entrar...

Tem uma postura rígida, como se estivesse em casa dela e fosse eu a desconhecida. Tem uns sapatos vermelhos que me começam a irritar ao bater no chão despido de tapetes. Faço uma nota mental para arranjar um ou outro tapete. Encontro o carregador, e ponho o telemóvel a carregar no quarto. Quando vou explicar-lhe que terá de esperar um momento, já que o telemóvel está a carregar, percebo que ela desapareceu completamente. Com ela, a televisão.

É por estas e por outras que ignoro a campainha.


Margarida

Marcela

Beatriz

Luísa

domingo, 3 de março de 2024

Soneto "Transforma-se o amador em cousa amada"

 Transforma-se o amador em cousa amada


Transforma-se o amador em cousa amada

Vai por todos os caminhos pensando

E entre todos imaginando

Quando dá por si, é alvorada.

 

Pela agitação vai caminhando

De consciência pesada

Todas as possibilidades imaginando

Até cair na encruzilhada.

 

Perdido, não sabe como sair

Desta existência angustiante

Sente-se a cair

 

Numa vida errante

Mas será que vai conseguir

Sair deste caminho triunfante?

 

Ana Luísa Vasconcelos
Mafalda Fontinha
Maria Clara Alves
Maria Fonseca
Mariana Fernandes

Até sempre

 Terminado este ano, muito obrigada pelas partilhas, Rui Zink. Muita sorte a todos os que ainda vão entrar no mercado de trabalho.  Façam mu...