Lago
Há um lago dum tamanho horrível, que ela vê do porto abandonado. Muito do que esse lago suscita, intriga-a imenso e ela não consegue evitar aproximar-se. Mesmo sabendo que não devia, pois as suas águas escuras têm perigos desconhecidos, ela não resiste à tentação de mergulhar os pés.
A água gélida parece queimar-lhos, mas ela não recua. Alguma coisa a puxa ainda mais para a frente.
Largando para trás os braços deixa-se cair naquela água pelos tornozelos. Nos olhos vê inúmeras caras, flashando a cada tentativa de piscar os olhos. Mortos! Mortos por todo o lado. É tudo quanto aquele lago tem para lhe oferecer, fazendo lembrar o solo sangrento de uma terra de ninguém.
Horrorizada, a jovem tenta nadar para a superfície, mas os seus membros não mexem. O seu corpo está congelado e a única coisa que ela pode fazer é olhar em volta e esperar que a sua cara se junte aos inúmeros a seu redor.
Um murmurar quebra o silêncio agoniante. O som vem das profundezas do lago. É indistinguível mas sabe-se ser um som. Ela sabe que é um fonema, pelo menos isso...
Os seus sentidos tornam-se turvos com o medo e as alucinações começam. Distinguir o real do imaginário torna-se impossível naquelas temperaturas. Ela vislumbra algo nas profundezas que só pode ser uma ilusão da sua frágil mente. Afinal, uma mulher vestida de branco com uma luz iluminando a sua bela face, só pode ser uma ilusão. Ou talvez um anjo.
Para se tentar controlar, a rapariga no lago tenta pensar em qualquer coisa. Qualquer coisa! Mas a única coisa que lhe vem à cabeça é um belo rolo de carne que a sua mãe costumava fazer quando era mais jovem. Levava atum, o que era estranho, mas traçava com a Dijon de forma agradável, com a pimenta rosa, com os polvilhares de rosmaninho e...
-Sara!! Está na mesa!
Ah...adormecera em casa dos pais. Nos pés sente pingas afiadas.
-Porque é que chove dentro de casa?
-Han?
-ESTÁ A PINGAR!! NO SOFÁ!
-AH!!! O TEU PAI ESTÁ NO BANHO! ÀS VEZES ACONTECE! É muito grande?
-Sim...está aqui uma poça ao lado do sofá?
-Quão grande?
-Tem um tamanho horrível...
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