segunda-feira, 4 de março de 2024

Exercício de escrita - Prosa

 Tocaram à campainha. Nunca respondo quando tocam à campainha. Não estou à espera de ninguém, então finjo que não é comigo. Graças à minha mente neurótica, é preciso que a toquem três vezes para que eu me levante do sofá. E, mesmo assim, há dias que nem isso. Acomodei-me nesta solidão tão confortável. E a campainha? Continua a tocar.

Parou. Agora sim, posso finalmente voltar a ver o Preço Certo. Nem acredito que o Fernando Mendes perdeu tanto peso! Detesto o Fernando Mendes como detesto a campainha. Tocou a terceira vez, lá vou eu.

Pego no intercomunicador e digo "Alô?". Ninguém responde. Abro a porta e desço alguns degraus, até conseguir ver a entrada do prédio. Vejo uma mulher parada. Está bem vestida, mas parece assustada. Terá sido assaltada? Não, talvez não. Sorri para mim e faz-me sinal, como quem pergunta se se pode aproximar. Queria dizer que não, mas, como gosto de acreditar que sou boa pessoa... que suba!

Sobe e explica-me que foi, de facto, assaltada. Tenho um sexto sentido para estas coisas! Pede-me para usar o meu telemóvel, para chamar alguém que a venha buscar. Sou boa gente, de facto. Mas também vejo muitos filmes de suspense. Penso que pode ser uma armadilha e fico indecisa. Por sorte, tenho o telemóvel no bolso, mas percebo que está sem bateria. Então, lá tenho de a deixar entrar...

Tem uma postura rígida, como se estivesse em casa dela e fosse eu a desconhecida. Tem uns sapatos vermelhos que me começam a irritar ao bater no chão despido de tapetes. Faço uma nota mental para arranjar um ou outro tapete. Encontro o carregador, e ponho o telemóvel a carregar no quarto. Quando vou explicar-lhe que terá de esperar um momento, já que o telemóvel está a carregar, percebo que ela desapareceu completamente. Com ela, a televisão.

É por estas e por outras que ignoro a campainha.


Margarida

Marcela

Beatriz

Luísa

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