quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Remover repetições é extreme editing?

"Palavra dada é palavra honrada" e para mim a palavra dada tem muito valor. 

Como tal retomo assim o assunto da publicação anterior sobre a entrada repetições que deixei temporariamente suspenso mas não esquecido. No livro de Milan Kundera, A arte do romance (mais precisamente entre as páginas 165 e 166) está uma entrada que a meu ver está genial porque coloca a tradução e a edição num mesmo campo de preocupação. 

O autor mostra-se "levemente" incomodado com a obsessão dos tradutores pela utilização de sinónimos, e eu atrevo-me a dizer que essa obsessão será um mal que não morre solteiro e que será igualmente partilhado com alguns editores. É como se alguns deles tivessem uma certa aversão às repetições no discurso, ou seja, palavras que surgem literalmente repetidas várias vezes na narrativa.

A meu ver, se um tradutor (de inglês para português) remover determinadas palavras que considero determinantes para a mensagem, cabe depois ao editor regatear a situação e bater o pé se for um bom entendedor da língua de partida. Então e se a tradução for feita do russo para português? Se o editor não dominar o russo, como saberá identificar se essas repetições foram ou não desnecessariamente removidas? São dúvidas existenciais que continuam a pairar em mim, confesso.

Milan Kundera, de modo subtil, levanta essas problemáticas nessa entrada. Fez-me pensar o que seria do conto The lady with the dog (do autor russo Anton Tchekhov) se o tradutor decidisse abandonar os adjectivos que surgem intencionalmente repetidos ao longo da intriga, principalmente durante os passeios ao ar livre que Anna e Gurov fazem juntos. 

Esses adjectivos são marcas do impressionismo literário e enfatizam o efeito que o exterior tem no eu. Sem eles, a mensagem perde-se na comunicação autor-leitor que se torna assim surda ou com ruído em demasia (dependendo da perspectiva tomada pela tradução e pela edição).

Como se sentiria Claude Monet se alguém restaurasse os seus lírios com a estética do realismo do Gustave Courbet? Deixava de ser impressionismo, deixava de ser Monet com as suas pinceladas facilmente identificáveis que chegam até a reproduzir o vento numa imagem que é "supostamente" estática. Chamo a isso dom (uns gostam outros não e essa é a beleza da vida) e merece ser respeitado. 

E como se sentiria Herman Melville se o seu escrivão (do conto Bartleby - The Scrivener) deixasse de repetir vezes sem conta que não quer fazer o que lhe mandam fazer no escritório? Mais uma vez perder-se-ia a mensagem (Indivíduo Vs Colectivo) pelo caminho como se de um jogo de telefone estragado se tratasse. São tudo escolhas legítimas, mas que eu não as faria. E ainda bem que um editor tem grande poder de decisão no processo de produção do livro.

Vejo o extreme editing como uma espécie de restauro e de conservação (que não tem de ser necessariamente mal-intencionado) que correu mal. A intenção podia até ser a melhor na raiz, mas nem sempre se revela a melhor quando vemos o resultado e o trabalho do autor se torna descaracterizado. Percebe-se a indignação do Kundera com o abuso dos sinónimos porque as repetições na narrativa são dons e que merecem ser respeitados, tal como uma pintura restaurada deve respeitar a sua génese...


P.S. Para quem é amante de artes plásticas (e a pintura é uma boa contadora de histórias), deixo este canal de YouTube que é incrível:


Vanessa Oliveira Anjos.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Aprendendo com os próprios erros...

 







Por onde caminha um original?

Compartilho com vocês o caminho de um original, de acordo com a organização interna da primeira editora em que trabalhei (desde já, peço desculpas pelos meus zero conhecimentos como editora de arte - ou designer). 




terça-feira, 28 de novembro de 2023

Algures pela Livraria Buchholz

 Numa visita à Livraria Buchholz, deparei-me com esta parede. Num breve contexto, Snu Abecassis foi uma editora dinamarquesa, fundadora das publicações Dom Quixote. Notabilizou-se por publicar livros que iam contra o regime vigente, possuindo ideais contrários aos do Estado Novo. 

Compartilho-a convosco porque achei muito interessante, indo até ao encontro de uma das primeiras atividades realizadas na cadeira: refletirmos sobre "o que é editar? O que é ou deve ser o papel de uma editora?"

 



segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Exercício de Capa e Contracapa


Proposta de capa e contracapa apresentada em aula: livro que não existe traduzido ao português do gênero fantástico.

Nazaré Duarte Matias


Tinha paixão?

 [Herberto Helder faria hoje 93 anos. Poema da página O poema ensina a cair]


li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios, 

quando alguém morria perguntavam apenas:

tinha paixão? 

quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua 

paixão:

se tinha paixão pelas coisas gerais, 

água,

música, 

pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos, 

pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória, 

paixão pela paixão,

tinha? 

e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,

se posso morrer gregamente,

que paixão? 

os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,

os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem, 

homens e mulheres perdem a aura 

na usura, 

na política, 

no comércio, 

na indústria,

dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera, 

trémulos objectos entrando e saindo

dos dez tão poucos dedos para tantos 

objectos no mundo

e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,

pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,

e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes, 

palavra soprada a que forno com que fôlego,

que alguém perguntasse: tinha paixão? 

afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia, 

ponham muito alto a música e que eu dance, 

fluido, infindável, 

apanhado por toda a luz antiga e moderna, 

os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a 

paixão e eu me perdesse nela,

a paixão grega 


Herberto Helder, OFÍCIO CANTANTE, edição Assírio & Alvim

Desculpa aí qualquer coisinha Cervantes

Por ter lido o encantador conto O licenciado vidraça de Miguel Cervantes, que faz parte das Novelas Exemplares, julguei erradamente que iria encontrar matéria do meu interesse no primeiro capítulo do livro de Milan Kundera, A arte do romance (1987). Rapidamente percebi que a complexidade da escrita de Kundera não era compatível com a minha pouca experiência de contacto com a obra de Cervantes. 

Depois percebi que possivelmente se compreenderá melhor este ensaio teórico de Milan Kundera quanto mais se ler acerca deste autor, e acima de tudo ler e dedicar tempo às suas obras literárias. Ainda assim não permiti que o desânimo se apoderasse de mim, e a esperança de encontrar o artigo ideal (e compreensível para mim) não se extinguiu por aqui.

E eis que um dos outros capítulos salta à vista: "Sessenta e sete palavras" (situado na sexta parte, da página 141 à 176). Ora aí está o género de título que me levaria a comprar se se tratasse de um livro, porque encerra em si uma espécie de enigma. Todas essas palavras dizem respeito a um dicionário pessoal criado pelo autor, com alguns dos conceitos/temas que estão presentes nos seus romances. Encarei como um bom ponto de partida para uma iniciante que nunca leu textos de Milan Kundera. 

Este capítulo revelou-se muito mais do que estava à espera, porque aparenta não só dialogar com campos temáticos dos trabalhos literários do autor, mas também com a globalidade das problemáticas da vida e da morte que dizem respeito a todos nós (sendo esses leitores ou não de Kundera). 

De todas as entradas, são dez aquelas a que aconselho uma passagem. Uma passagem prolongada de preferência, para melhor se interiorizar as ideias e assim permitir o desenvolvimento do pensamento, algo raro nos dias que correm porque o tempo urge e o stress vai ganhando espaço, criando a ilusão de que temos ainda menos tempo do que aquele de que já dispomos por dia para pensar.

São estas: Um pequeno texto introdutório (imperdível!); Caracteres; Cómico; Entrevista; Inexperiência; Ironia; Repetições (voltarei a esta mais tarde); Rewriting; Ritmo; Riso; e por fim, Velhice.


Proposta de contracapa - Uma Soma Humana (Makenzy Orcel)

 Deixo a minha proposta de contracapa. O livro em questão existe, mas não está traduzido (penso que para língua nenhuma). O título original, em francês, é Une Somme Humaine, para quem tiver curiosidade.




sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Lançamento de livro - Livraria Ler Devagar

Olá! Partilho o lançamento do livro Aqui dentro faz muito barulho, de Bruno Nogueira, com prefácio de Miguel Esteves Cardoso. Vai ser na próxima segunda-feira, às 18h30, no Lx Factory.

Bom fim-de-semana!





Ana Catarina Mogas
 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Proposta de capa e contracapa

 Deixo-vos a proposta de capa e contracapa de uma obra fictícia, por mim pensada. Partindo de um universo que me interessa e do qual gostaria de ler sobre, apostei em tons mais escuros e "sombrios" para que ficasse em concordância com a energia do livro.

A contracapa foi feita a pensar nos elementos que realmente me chamam à atenção quando vou a uma livraria e pego num livro: o design, as cores, a sinopse, as informações da editora e os prémios (que mesmo não conhecendo a maioria, me interessam). 





Mariana Fernandes

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Capa e contracapa

     Aqui fica o exercício de capa e contracapa. Escolhi o livro que estava a ler na altura e tentei torná-lo um pouco mais apelativo ao público do ensino secundário, uma vez que este livro consta na lista de recomendações para esta faixa do PNL. Fiz ainda badanas, uma com uma pequena bibliografia e outra dedicada a mostrar a adaptação homónima cinematográfica.


Capas deste livro:





Proposta de capa:







Soraia Pereira 


Exercício de capa e contracapa

Aqui está a minha proposta de capa e contracapa do livro The Housemaid de Freida McFadden. Optei por fazê-la em inglês visto que li a obra na sua língua original.




Editar é como uma leitura

O Bill Clinton parece ser um tipo fixe mas o seu editor (na acepção inglesa) não lhe fica nada atrás. Entre as páginas 246 e 257 do seu livro de memórias, Robert Gottlieb descreve como foi a experiência de trabalhar com o antigo presidente norte-americano na edição do seu livro de memórias, My Life (2004). 

Através do seu testemunho percebe-se como o editor não se limita a ser meramente um revisor, um gramático, um espectador passivo do texto sem participação no mesmo. Vai mais além do que isso. É também um ávido leitor. Assim como um bom tradutor deve procurar ler mais acerca do autor e da obra que vai traduzir para ser bem sucedido, o mesmo processo acontece com um editor. 

Robert Gottlieb revela-se um bom leitor de pessoas, de almas e de rostos até. Procura não só compreender o que o texto procura comunicar, assim como o homem que está por trás do autor. A forma como colabora com Bill na escolha da capa final do livro revela isso mesmo. Revela mais ainda. Revela também que não ignora a audiência a quem este livro de memórias se dirige porque esses leitores queriam encontrar o homem real naquelas páginas e não a figura protocolar do Presidente com todos os seus inerentes formalismos. O editor é assim um amigo de pessoas e um curioso do mundo.

Vanessa Oliveira Anjos.



segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Sétima aula (15/11)

 0. Fui a uma festa no Grémio Literário. Além de muito bonito e chique, queria estar lá. Amizade & networking, a melhor combinação. 

Enganei-me na data! Era ontem. O almirante na portaria riu: «Já é o segundo senhor que se enganou.»

Falai em princesas e pormaiores...

1. A importância dum ponto final. 

2. Discussão das traduções. Sem certezas, como que às escuras: intuindo, adivinhando, tateando. Discernindo.

3. A história da fita dos jornais é verdadeira. Ambas. Camões: «E tal o amor tiverdes, tereis o entendimento de meus versos.» (Cito de cor, pode haver um erro, mas é isto.)

4. Posso editar quem está no domínio público, mas não sonegar-lhe a autoria.

5. O principiante fica contente com o primeiro borrão. E deixa – por desprezo ou ligeireza – o trabalho para quem lê. 




domingo, 19 de novembro de 2023

Contracapa- Sin eater de Megan Campisi

Para este exercício escolhi refazer a capa e a contracapa de um livro existente, neste caso Sin eater de Megan Campisi.



Ana Luísa Vasconcelos


Contracapa – Hero e Leandro, Museu

 







A minha proposta da contracapa de uma tradução fictícia da obra de Museu.

Apresento, ainda, propostas de capa, badanas e ficha técnica, para que esta contracapa, embora fictícia, ganhe credibilidade.



(Contra capa | Lombada | Capa)







(Badanas)


(Ficha técnica)



António F. Vicente, 19/11/2023


Contracapa - Homens Ao Sol e Outros Contos Palestinianos de Ghassan Kanafani

  



Deixo aqui a contracapa que fiz para uma hipotética colecção de contos do autor palestiniano Ghassan Kanafani.

João Narciso

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Exercício de tradução

Bebo enquanto guio

É Agosto e não tenho
Lido livro algum faz seis meses
exceptuando um tal chamado The Retreat of Moscow
de Caulaincourt
No entanto, estou feliz
a andar de carro com o meu irmão
e a beber de uma garrafa de Old Crow.
Não temos um lugar em mente,
Conduzimos apenas.
Se fechasse os meus olhos por um instante
ficaria perdido, ainda assim
eu poderia deitar-me com prazer e dormir para sempre
nesta berma de estrada
O meu irmão chama-me
A qualquer momento, algo acontecerá

Tradução de Pedro F. Sousa
Do original Drinking while driving, Raymond Carver

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Exercício de Tradução - Drinking While Driving

 

Beber e Conduzir


É agosto e não

Leio um livro há seis meses

exceto algo chamado A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

Ainda assim, estou feliz

No carro com o meu irmão

a beber uma caneca de Old Crow

Não temos um destino em mente,

estamos só a conduzir.

Se fechasse os olhos por um minuto

Estaria perdido, mas

Podia, de bom grado, dormir para sempre

à beira da estrada

O meu irmão toca-me

A qualquer momento, algo vai acontecer


— Raymond Carver  


terça-feira, 14 de novembro de 2023

Tradução


Tradução do poema de Raymond Carver

Beber enquanto conduzo

É Agosto e ainda não li um livro em seis meses, excepto qualquer coisa chamada O Retiro de Moscovo, de Caulaincourt.

De qualquer forma estou feliz, conduzindo um carro com o meu irmão e bebendo um copo de Old Grow.

Não temos nenhum lugar em mente para ir, estamos só a conduzir.

Se fechar os olhos por um minuto, estarei perdido. Ainda assim posso deitar-me e dormir para sempre nesta estrada.

O meu irmão mete-se comigo.

A qualquer minuto alguma coisa vai acontecer.

Tradução do poema de Raymond Carver

 Beber Enquanto Conduzo

É Agosto e eu não

Leio um livro há seis meses

exeto algo chamado A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

Mesmo assim, estou feliz.

A andar de carro com o meu irmão 

e a beber um copo de whiskey.

Não temos um destino em mente para ir,

estamos apenas a conduzir.

Se eu fechasse os olhos por um minuto

perder-me-ei, mas

Eu poderia deitar-me com prazer e dormir para sempre

ao lado desta estrada.

O meu irmão toca-me

A qualquer momento, algo vai acontecer.

- Raymond Carver


Francisca Nóbrega 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Tradução do poema Drinking While Driving, de Raymond Carver

Bebo enquanto dirijo

É agosto e não li 

um único livro nos seis últimos meses 

a não ser uma coisa chamada The Retreat from Moscow de Caulaincourt

Ainda assim, me sinto feliz

Ao volante, eu e meu irmão 

bebendo uma garrafa de Old Crown

Nenhum destino em mente

apenas dirigindo 

Se por um instante eu fechasse os olhos

estaria perdido, mas 

ficaria feliz em deitar e dormir pra sempre  

à beira da estrada 

Meu irmão me cutuca

A qualquer instante, vai acontecer


Karen Barboza Aldi

Drinking While Driving (tradução)

Beber a conduzir

É agosto e não
li um livro em seis meses,
exceto um tal, chamado "A retirada de Moscovo"
de Caulaincourt.
No entanto, estou feliz
a andar de carro com o meu irmão
e a beber um uísque Old Crow.
Não temos aonde ir,
conduzimos, apenas.
Se eu fechasse os meus olhos, por um momento,
perder-me-ia, porém,
de bom grado me deitaria e dormiria para sempre
à beira desta estrada.
O meu irmão toca-me no braço.
Algo está prestes a acontecer.

domingo, 12 de novembro de 2023

Acabei por cair no abysmo

Quando me aproximei da secretária da sala de aula ia já com uma ideia definida. Em busca dos artigos sobre Herman José e sobre Miguel Torga, surpreendida, acabei por cair numa entrevista feita ao fundador da editora Abysmo

São muitas as ideias interessantes que João Paulo Cotrim em tempos partilhou com os leitores da revista Os meus livros (publicada em Dezembro de 2011), e destaquei algumas das suas impressões nas minhas fotocópias. Partilho agora as páginas dessa entrevista convosco para que vocês possam fazer as vossas próprias reflexões acerca das palavras do autor desse fascinante projecto editorial que é a Abysmo. 

Este alia o poder da imagem ao poder da palavra escrita. Mostra como as várias artes não comunicam apenas consigo mesmas e que o diálogo entre elas só as valoriza. Deixo uma das passagens que mais me marcou: "(...) os tempos que vivemos são de abismo, não são exactamente solares. De qualquer modo, mesmo nas fossas abissais há vida e alguma dela extremamente interessante."







Vanessa Oliveira Anjos.

Exercício de tradução

 
Beber e Conduzir

É agosto e já não
Leio um livro há seis meses
exceto algo chamado A Retirada de Moscovo
de Caulaincourt
Contudo, estou feliz 
No carro com o meu irmão
e a beber uma caneca de Old Crow.
Não temos nenhum sítio em mente,
estamos apenas a conduzir.
Se fechasse os olhos por um minuto
Estaria perdido, mas
poderia muito bem encostar-me e dormir para sempre 
à beira desta estrada
O meu irmão dá-me uma cotovelada.
A qualquer momento, algo irá acontecer 



Inês Martins

Exercício de tradução - Drinking While Driving


 

sábado, 11 de novembro de 2023

Apresentação do livro "O nome que a cidade esqueceu" de João Tordo

        No passado dia 9 de novembro decorreu a apresentação do livro O nome que a cidade esqueceu, o vigésimo e mais recente romance de João Tordo. Foi também uma comemoração ao autor e aos seus os vinte anos de livros. A sessão teve lugar no café Brooklyn em Lisboa, um ambiente de certa forma relacionado com este livro cuja narrativa decorre em Nova Iorque.    

        Começou por volta das 19h com o discurso carregado de humor das jovens sobrinhas do autor. Este momento abriu o precedente do que seria a restante apresentação: mais do que o lançamento do novo livro, foi uma celebração de João Tordo enquanto escritor, contando com depoimentos intimistas de amigos, colegas de profissão e familiares.

        Passou-se a palavra a Clara Capitão, editora de João Tordo há nove anos, que relembrou os 14 livros nos quais trabalharam juntos, não esquecendo de mencionar outros importantes membros da equipa (revisores, paginadores e produtores). Leu ainda um pequeno excerto do livro apresentado, garantindo que nele ‘compaixão’ é palavra de ordem.

        Na segunda parte da celebração, João Tordo é surpreendido com um quadro comemorativo onde estavam expostas as capas dos seus vinte livros publicados ao longo destes vinte anos. As surpresas continuaram com os discursos de pessoas próximas do autor, foram lidos excertos marcantes da sua vasta obra e realçadas as suas peculiaridades, tanto quanto escritor quanto pessoa. Nesta celebração de vinte anos, não poderia faltar o reconhecimento de um dos momentos mais marcantes da carreira de João Tordo: a conquista do Prémio Saramago em 2009. Para este efeito, foi Pilar del Río, presidente da Fundação Saramago, quem proferiu algumas palavras e louvou a mestria do escritor.

        Finalmente, João Tordo agradeceu a toda a equipa, à editora Penguin Random House e, claro à família. A última palavra de gratidão foi para os leitores, que ano após ano continuam a ler os seus livros e a manter uma firme rede de apoio.

        Creio que esta sessão teria beneficiado de um espaço mais amplo e organizado, tendo em conta que a grande parte do público viu-se obrigada a permanecer de pé ou até sentada no chão. Num espaço pequeno e com capacidade esgotada, a visibilidade não era a melhor, tão pouco o som (o microfone não funcionava). Contudo, e vendo pelo lado positivo, o espaço apenas foi escasso porque houve uma grande adesão ao evento. O público, a grande maioria de meia-idade, era composto por leitores assíduos de João Tordo e família. Como já muitos colegas fizeram notar, estes lançamentos raramente são amplamente divulgados e este não fugiu à regra. A divulgação foi feita pelo autor e pela editora através das redes sociais. Apesar de tudo isto, foi uma apresentação cativante e esclarecedora.

        Fechou-se o encontro com um brinde à carreira de João Tordo e com a indispensável sessão de autógrafos.

 

Maria Alves

Fazer das fraquezas força

 Uma definição de estilo: transformar um defeito numa qualidade. Dumbo, Pinóquio, o Pequeno Polegar... todos fazem de uma fraqueza força. 

Há até quem chame a isso estilo.

Aqui o caso do sotaque pesadíssimo de Arnold Schwarzenegger.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Exercício de tradução-"Drinking while driving" de Raymond Carver

A beber enquanto conduzo 

É Agosto e não leio 

um livro há seis meses, 

exceto algo chamado The Retreat from Moscow

de Caulaincourt.

No entanto, sinto-me feliz

A conduzir com o meu irmão

e a beber uma caneca de Old Crow.

Não temos nenhum sítio em mente para ir,

apenas conduzimos.

Se fechasse os olhos um minuto

estaria perdido. Ainda assim,

de bom grado me deitava e dormia para sempre

na berma desta estrada.

O meu irmão empurra-me.

A qualquer momento, algo vai acontecer. 


Beatriz Flores


Apresentação do livro "Revolução" de Hugo Gonçalves

 

    Este lançamento teve lugar dia 4 de novembro, na antiga livraria Barata, agora conhecida como Fnac da Avenida de Roma. Iniciou-se às 17h como programado. O lançamento começou com uma introdução da editora, Clara Capitão, que referiu alguns dos temas chave do livro, falando igualmente sobre a sua experiência editorial com a obra. Passou seguidamente a palavra ao jornalista Fernando Alves que leu um texto relativo à obra apresentada. É relevante apontar que foi convidado Fernando Alves devido a ser alguém que viveu o 25 de abril e por ser um apreciador das obras anteriores de Hugo Gonçalves – foi assim uma figura que tanto o autor como a editora queriam que estivesse presente para falar sobre o romance. Depois da leitura bem humorada do jornalista, o autor comenta e esclarece alguns dos pontos mencionados. De seguida, começou uma conversa entre Hugo Gonçalves e Fernando Alves, moderada pela editora. No final, os presentes foram convidados a colocar perguntas ou observações, havendo várias intervenções.


Com a duração de uma hora e trinta minutos, esta apresentação teve uma boa adesão por parte dos leitores, estando presentes cerca de quarenta pessoas. O público era maioritariamente de meia-idade, com algumas (poucas) exceções. Para além dos leitores, entre eles alguns bookstragrammers, estavam também presentes figuras do meio editorial, tais como a anterior editora de Hugo Gonçalves, Maria do Rosário Pedreira, e a crítica literária e autora Helena Vasconcelos. Apesar disso, não estiveram presentes nem jornalistas nem canais televisivos, algo talvez explicado pelo facto do autor não ser uma figura pública. Contudo, é relevante salientar que, normalmente, os lançamentos de livros raramente são noticiados.

Não houve beberete nem música, sendo assim uma apresentação mais tradicional – algo evidente pelo facto de ter sido realizada numa livraria, o que implica pouco investimento por parte da editora, visto que o espaço está preparado para receber os autores e aqueles que estiverem com ele para apresentar a obra. A divulgação foi principalmente feita nas redes sociais, onde o evento foi promovido pelo autor e pela sua editora, Penguin Random House. Para acompanhar o lançamento estava também presente a responsável pela comunicação e marketing.


No geral, foi um lançamento bem organizado e muito interessante, com uma conversa que gerou curiosidade, como se verificou por todos os que ficaram para trocar algumas palavras com o autor. Para quem quiser conhecer o texto lido por Fernando Alves, o mesmo encontra-se disponível em: A Revolução está na rua! - Penguin Livros




Mafalda Fontinha



Obrigada logaritmo do YouTube

Muitas vezes o logaritmo do YouTube prende-nos numa espiral infindável de recomendações que só nos retiram minutos de vida. 

Durante as férias de Verão proporcionou-me porém uma óptima descoberta que me deu a conhecer vários aspectos sobre o funcionamento do mercado da edição e sobre métodos de comercialização de livros. 

Trata-se do canal oficial da Penguin Random House UK, onde podem encontrar vários vídeos breves (com uma linguagem acessível) que são como pequenos tutoriais de como a indústria livreira funciona. 

Deixo-vos aqui alguns desses clips como forma de aperitivo para o descanso semanal (porque como o nosso professor costuma mencionar habitualmente "mesmo quando não estou a trabalhar, estou a trabalhar."):

How to turn a manuscript into a book

The art of book cover design

What does a book publicist do?

How to market a book

Vanessa Oliveira Anjos.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Exercício de tradução do poema "Drinking While Driving", de Raymond Carver

 

Conduzir e beber

É agosto e já não

Leio um livro há seis meses,

Exceto qualquer coisa chamada de The Retreat from Moscow

De um Caulaincourt.

Ainda assim, estou feliz

A conduzir com o meu irmão

E a beber de um caneco de Old Crow.

Não temos destino,

Só conduzimos.

Se fechasse os olhos por um minuto

Não saberia onde estou

E ficaria deitado a dormir para sempre

À berma da estrada.

Mas o meu irmão dá-me uma cotovelada ao de leve.

Está para acontecer qualquer coisa.


Comentário: Gostei muito das propostas dos colegas, sobre tudo a da Soraia para "nudge" com o "toque". Ainda, com a questão de "ao pé da estrada" optei por "berma" por me parecer uma palavra no tom do poema e semanticamente correto. 

Nazaré Duarte Matias

Apresentação do Livro "Ideias de um pequeno universo" de Alexandra Mariza




No passado 6 de outubro, assisti à apresentação de Ideias de um pequeno universo da autora Alexandra Mariza. Esta ocorreu na Junta de Freguesia de Pedrogão Pequeno, uma localidade remota no distrito de Castelo Branco.

A autora está a dar os seus primeiros passos nas publicações em português, sendo esta a sua primeira publicação com a editora Chiado Books do Grupo Atlântico.

Não houve muito investimento com a apresentação e o representante da editora não esteve presente por questões climatéricas. O espaço consistiu na sala de reuniões da Junta de Freguesia com as cadeiras alinhadas. A autora foi introduzida pelo presidente da Junta, celebrando a publicação de uma autora tão jovem e natural da localidade, sendo o espaço a sala de reuniões da Junta com uma série de cadeiras vermelhas alinhadas em cinco filas de quatro cadeiras cada uma. Assim, o painel era pequeno, constituído pela autora, Alexandra Mariza, e pelo presidente da Junta.

O público era maioritariamente adulto, pessoas próximas da autora, e idosos curiosos que passavam e sentiram-se tentados a fazer parte. O evento não fora muito divulgado, mas a sala estava cheia e havia pessoas de pé.

Começamos às 18h, com uma hora de atraso, pois esperamos até ao fim pela chegada do editor (que não o fez). Após a breve introdução à autora, a mesma começou a falar sobre o seu percurso e entrada ao mundo da publicação, do carinho que dedicava ao livro e do que significava para ela todo o processo de publicação. De seguida, pessoas próximas que tinham lido o livro ou queriam acrescentar alguma coisa sobre o percurso da autora também foram convidadas a participar e falar. Não houve perguntas, mas existiu sempre um ambiente muito familiar, tendo em conta que quase todos eram conhecidos. A dado momento, transformou-se numa conversa ordeira sobre livros, autores e acontecimentos deste gênero na freguesia.

Os autógrafos ocorreram após a apresentação ao mesmo tempo que um beberete abundante.

Apesar de que a estruturação pensada inicialmente para o evento se desarmasse por um imprevisto, o certo é que com o pouco tempo que tinha encontrou a forma de se reestruturar. Sentimos todos o calor do livro de uma forma muito familiar e íntima.

Nazaré Duarte Matias

Primeira feira de livros manuseados da Tinta-da-china


Este sábado, dia 11 de novembro, os escritórios da Tinta-da-china vão realizar a primeira feira de livros manuseados. Será das 10h30 às 19h, na Alameda das Linhas de Torres 152, escritórios 9 e 10, em Lisboa

Compartilho com vocês as informações que foram divulgadas no instagram da editora. Esta feira coincidirá com a comemoração do S. Martinho, juntando-se assim o útil ao agradável: livros, castanhas assadas, sorteios, etc... :) 




Exercício de tradução do poema de Raymond Carver “Drinking While Driving”

A beber enquanto conduzo


Estamos em agosto e eu não

Leio um livro há seis meses

exceto uma coisa chamada A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

No entanto, estou feliz

A andar de carro com o meu irmão

e a beber um caneco de Old Crow

Não temos nenhum sítio em mente para onde ir,

estamos apenas a conduzir.

Se fechasse os olhos por um minuto

Estaria perdido, contudo

Podia de bom grado deitar-me e dormir para sempre

ao lado desta estrada

O meu irmão dá-me um empurrãozinho.

A qualquer momento, algo vai acontecer


Mariana Fernandes 



Livraria Salted Books



 Há pouco tempo descobri nas redes sociais a livraria Salted Books que abriu recentemente em Santos, e achei interessante o conceito de só ter livros em inglês. Visto que muitos de nós lemos em inglês por variadas razões, achei que esta livraria merecia uma visita daqueles que estiverem interessados. No entanto, como diz o artigo abaixo, não esperem encontrar Colleen Hoover.

https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/a-nova-livraria-de-santos-so-vende-livros-em-ingles-092823


Exercício de Tradução - "Drinking While Driving" de Raymond Carver

 Beber Enquanto se Conduz


É agosto e eu não

Leio um livro há seis meses

exceto algo chamado The Retreat from Moscow

de Caulaincourt

Ainda assim, estou feliz

A andar de carro com o meu irmão

e a beber de uma garrafa de Old Crow.

Não temos nenhum destino em mente,

estamos apenas a conduzir.

Se eu fechasse os olhos por um minuto

estaria perdido, mas

deitava-me de bom grado e dormia para sempre

ao lado desta estrada

O meu irmão toca-me.

A qualquer momento, algo irá acontecer.


Exercício de tradução - "Drinking While Driving" de Raymond Carver

Beber e conduzir

 

É agosto e não

Leio um livro há seis meses

Exceto algo chamado O Retiro de Moscovo

De Caulaincourt

Apesar disso, sou feliz

A conduzir num carro com o meu irmão

E a beber de uma caneca de Old Crow.

Não temos nenhum sítio em mente para ir,

Estamos só a conduzir.

Se fechasse os meus olhos por um minuto

Ficaria perdido, em todo o caso

Podia de bom grado deitar-me e dormir para sempre

Ao lado desta estrada

O meu irmão empurra-me.

A qualquer momento, algo irá acontecer



Mafalda Fontinha

Notas finais

 Meus caros, aqui estão as notas que encontrei após tentar ser o mais justo que posso. Qualquer queixa, agradeço que a façam até terça às 13...