segunda-feira, 29 de abril de 2024

Aula 10 (24/10): Da perfeição

 nem reparei que esta quarta é feriado. Tanto melhor, descansam. E assim terão tempo para ler os textos de apoio. 

Gostava que: 

a) relessem/revissem os trabalhos que fizeram. É chato, mas é assim que se trabalha, não ficando contente à primeira. Essa aliás a minha maior crítica, sobretudo aos editores: alguns não fizeram o seu trabalho, por conseguinte não ajudaram os colegas. Para mim, tal desleixo é falta de generosidade. Mesmo que não seja com intenção, o resultado é esse, como o do condutor que atropela alguém e diz «Desculpe, não vi». 

b) identificassem os pontos obscuros que gostariam de ver esclarecidos. Assim, posso fazer um tutorial dirigido a cada um. 

O que é a perfeição? É o melhor que consigo nas circunstâncias espaço-tempo que me foram dadas. 

O que tenho contra a escrita barroquizante? Nada, adoro García Marquez, Saramago, Lobo Antunes. Convém é, como diz Mário de Carvalho, não confundir a prima do mestre de obras com a obra-prima do mestre. Com textos simples, económicos e rigorosos podemos aprender em conjunto mais. Se depois quisermos complicar e musicar, maravilha. 

Cada género tem as suas regras. Mesmo quando são quebradas. Sttau Monteiro (as redações da Guidinha), Miguel Esteves Cardoso e outros podem quebrar as regras do género crónica, porque as dominam. Para subverter é preciso entender. 

Picasso aos 15 anos, 1896
Picasso aos 26 anos, 1907

Picasso aos 90 anos, 1971

Com quem está o texto a falar? Há sempre um leitor modelo, alguém que o autor imagina ser o seu interlocutor ideal e que o texto potencia. Desde logo, pela escolha da língua. Por vezes, até é mais fácil ver quem o texto exclui. Se eu ponho letra pequena estou a excluir quem tem mais de 50 anos, se escolho fórmulas complicadérrimas estou a excluir quem tem menos vocabulário. As revistas científicas em áreas especializadas existem porque os interlocutores são poucos e só os que atingiram um nível alto naquela área específica.  

Com quem está a falar este texto? 




sexta-feira, 19 de abril de 2024

A aula magistral de Monica Lewinsky

 Recentemente, voltei a interessar-me por Monica Lewinsky, protagonista de um escândalo planetário nos anos 90. Aqui deixo três textos que vos podem interessar: 

1. A conferência Ted Talk de que foi oradora principal em 2015. 

2. O comentário de um especialista em palestras, onde ele analisa a palestra, que considera talvez a sua favorita de sempre.

3. A transcrição da conferência. 

Espero que vos seja útil, até porque se liga a matéria já abordada, nomeadamente a de que (seja qual for o suporte ou o formato) isto está tudo ligado... e o que aprendemos para um texto pode ser útil para outro completamente diferente. 



Prisão e redenção

 Esta quarta à noite vi um episódio de Time, em português Prisão e Redenção) na RTP2. 

Aqui fica um trecho que tem interesse para nós. (Se não conseguirem ver digam s.f.f., testei e pareceu-me bem.) Nesta cena, um professor preso por homicídio involuntário (atropelou bêbado um homem num país onde isso é crime) ajuda um analfabeto a escrever uma carta de amor. Em vez de autor da carta (o que faria dele escritor fantasma e do autor uma fraude), ajuda o que julga «não ter jeito para palavras» a escrever ele mesmo um texto. Tradução: faz de editor. E um bom editor, daqueles que, não se impondo, feito vento benfazejo em estrofe d'Os Lusíadas leva o barco a bom porto.   




Aula 9 (17/4)

Comecemos pelo fim:

 5. TPC: crie uma editora

0. Os instrumentos conceptuais que temos são réguas e balanças. Ajudam a ver se estamos perto da medida certa. (Os grandes textos talvez subvertam essas regras, de momento contentemo-nos em tentar aplicá-las e entender como funcionam.)

 1. Regra 3426: A escrita é paixão (algum tipo de paixão, decisões a quente), a edição é um balde de água fria.

1.1. Uma lição que podia ser transplantada do trabalho de editar para a vida real: nunca reagir a quente. Sobretudo, em política, para não dar ao adversário a vantagem de nos trazer pela trela. Deixamos de ser agentes para irmos a reboque, como uma rulote atrelada a um carro.

1.2. Se as nossas decisões são meras reações a provocações externas, a nossa política passa a ser ditada de fora.

1.3. Num livro (digamos, um policial) aquilo que hoje se chama o pensar fora da caixa nasce de encontrar uma solução simples, eficaz e… não prevista. Um bom final é aquele que surpreende e, passado um momento, reconhecemos. «Ah, como não pensei nisso?»

1.4. No polo oposto está o coelho da cartola – uma solução que não tem lógica nenhuma alguma, é disparatada.

2. Apresentação dos livros - segunda demão 

2.1. Não tem mal mas, em alguns casos, ainda desatenta; o importante é sabermos que o foi, ainda desatenta.

2.2. A solução final da história do Lobinho Bom é boa, porque ata os fios do conflito, resolve-o com humor e elegância.

2.3. Calibrar um texto dá trabalho. Então num livro infantil (tal como num discurso político ou num stand-up) convém trabalhar as frases como se fossem versos (o mesmo rigor) e os parágrafos como estrofes.

2.4. O caso Paupério/Livre. Comentário ao texto de Francisco Paupério. 

1.5.  Zidane e Ronaldo. Duas histórias verdadeiras. Zidane era calmo e razoável, Ronaldo mais irracional e impulsivo 

1.5.1. Mas, num momento-chave, Zidane perdeu a cabeça (e deu uma cabeçada no defesa italiano que o picou) enquanto Ronaldo respondeu «fora da caixa» à provocação de um defesa espanhol.

1.5.2. As fontes (se disse que eram verdadeiras, tenho de mostrar as fontes, é essa a 'regra científica') aqui e aqui.

1.6. Aplicações da edição de texto à vida real (insistência algo redundante)

1.6.1. Sentir com paixão, agir a frio. 

1.6.2. Nunca responder como (nem quando) o outro quer. Não andar a reboque. O mundo melhorava logo, as nossas ralações pessoais também.  

1.6.3. Mais um aforismo: Escrever livre, editar preso. 

4. algumas imagens interessantes (se quiser comentar alguma)












 

 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

quinta-feira, 11 de abril de 2024

terça-feira, 9 de abril de 2024

Procura-se parceiro

Senhora, 42 anos, procura parceiro para trabalho no âmbito da cadeira de Técnicas de Edição. Sou simpática, asseada e sei escrever sem erros ortográficos (pelo menos na maioria das vezes).

Os interessados devem contactar-me através do e-mail a2023111379@campus.fcsh.unl.pt.

Até breve!


sábado, 6 de abril de 2024

Sermão e desabafo (adenda à aula 7)

 Como disse na aula 7, há um mercado até para esse extreme editing que é ser escritor-fantasma ou ghost writer

O que conv Convém é entendermos que a nossa competência potencial para as diversas áreas em tarefas fluidas (sempre a variarem, exigindo de nós sobretudo golpes de rins mentais, emocionais e intuitivos) não é assegurada por mostramos o diploma: «Olhe, a prova da minha competência é que tive 16 a Técnicas de Tradução e terminei o mestrado com Muito Bom!»

Daí a importância que não me canso de repetir quatro pontos essenciais

  1. fazermos exercícios fora das aulas para descobrirmos/aperfeiçoarmos algo que podemos vir a ser bons;
  2. estarmos atentos a essa auto-avaliação contínua;
  3. lermos, lermos sempre muito e variado;
  4. e, de quando em quando, treinarmos mesmo a nossa mão em coisas que não nos interessam ou não são «nossas» (o equivalente a mudar mesmo um pneu, em vez de simplesmente termos entendido a teoria. É como a diferença entre quem teve filhos ou não teve, não há qualquer «superioridade moral», mas quem experienciou ter filhos tem, como diria Camões, um pessoal e intransmissível saber de experiência feito

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Parcerias

Aqui coloco as parcerias, para todos as conhecermos:

  1. Maria Fonseca/Marta Gouveia
  2. Ana Luísa/ Maria Alves
  3. Mariana/Mafalda
  4. Catarina Vieira/António
  5. Inês Vidal/Luísa Gonçalves 
  6. Beatriz Silvestre/Nazaré Matias
  7. Marcela/Margarida 
  8. .......

*

Entrementes, uma pergunta:

«Boa tarde, eu vivo e trabalho em Torres Novas. Não há hipótese de fazer o trabalho de que fala sozinha?»

E uma resposta:

«Não, Inês, e o mais das vezes os parceiros do livro não trabalham presencialmente. Podem enviar por mail, nem precisam de se telefonar. O exercício implica um parceiro.»


A Inês Vidal precisa de um parceiro. Quem ainda não tem?

Aula 7 (3/4)

1. Uma das grandes aventuras de tratar um texto é que nunca coloca problemas desafios iguais. 

Com este vosso exercício-marioska (exercício com muitos exercícios dentro) há um patamar onde eu próprio, docente da cadeira, não entro, por mais que tente meter o pé na porta. A experiência é pessoal e intransmissível, apenas posso citar a expressão americana: "What you give is what you get." Ou, como diria Camões: 

E sabei que, segundo o Amor investimento tiverdes 

tereis o entendimento de meus vossos versos

2. Apresentação de projetos-livro

2.1. Breve discussão dos projetos (todos bem interessantes, alguns mesmo publicáveis, quem sabe?)

2.2. Formação dos pares (autor-editor) para trabalho em casa durante a semana (não tomei nota, por favor informem-me das parcerias) [ver próximo post]

2.3. «Criar» o ISBN ou, se publicassem os livros como números de uma publicação periódica, o ISSN.

3. Próxima aula, segunda masterclass: João Concha, designer, ilustrador e editor das Não Edições

(Já tivemos uma editora brilhante no desemprego, agora um pequeno editor e terminaremos em maio com uma editora no emprego.) 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Livro para crianças

 Livro para crianças


O pilrito que nunca vira o mar


João era um pilrito-das-praias. Tinha uma penugem branca em tons de cinzento, um bico muito comprido e umas pernas muito altas.

Vivia com o seu bando de irmãos pilritos numa casa nas rochas.

Passava os dias a brincar na rua e o seu passatempo preferido era correr. Corria sem parar e sem se cansar de um lado para o outro. Só parava para caçar minhocas que encontrava escondidas na areia. Era o outro passatempo preferido dele.

João gostava da vida que levava ali, entre rochas, no sítio onde sempre viveu, mas nos seus sonhos via sempre uma casa diferente, em tons de azul e amarelo.

Um dia, enquanto corria com os seus amigos, apareceu um pilrito que nunca tinham visto. Era alto e forte. Contava histórias de encantar sobre a vida lá fora, nas praias, e de como havia tantos bichos para caçar à beira-mar.

“Mar?” - perguntou curioso o João. “O que é o mar?”

“O mar é um chão de água sem fim”, explicou o pilrito viajante.

“E como chegamos ao mar?”, perguntou o pilrito cada vez mais interessado.

“Basta seguir o cheiro de água salgada”, disse o explorador.

João estava decidido. Iria ver o mar, esse chão de água imenso e as praias de que falava o viajante.

Começou então a fazer os seus planos: aprender a voar alto e longe, caçar minhocas com mais velocidade e despedir-se dos pais. Esperava voltar um dia, mas só depois de ver o mar.

Ninguém quis acompanhar João e ele partiu sozinho na sua primeira aventura.

Voou, voou e voou sem se cansar até que, por fim, sentiu o cheiro de que falava o pilrito viajante. À medida que o cheiro ficava mais forte, junto de um chão amarelo, que se juntava a um chão de água, aterrou. Era a imagem que via nos seus sonhos.

João estranhou o pisar da areia, mas logo se habituou. Pé ante pé, foi andando e num instante estava a fazer aquilo que mais gostava: a correr. Corria muito rápido para a frente e para trás, como só um pilrito-da-praia sabe fazer.

Chegou por fim perto do mar. Molhou, a medo, a pata naquela água gigante. Era fria. Molhou uma e outra vez. Em breve estava a chapinhar na água.

Resolveu então ir procurar as muitas minhocas de que o viajante tinha falado. Com o seu bico comprido foi picando o bater das ondas na areia. Eram muitas, tantas, como nunca tinha visto. O pilrito viajante não o tinha enganado.

Depois de um dia inteiro a brincar, fartou-se de estar sozinho. Decidiu voltar e convencer todos os outros a ir com ele. Adorou o mar e queria partilhá-lo com os outros. Aquela sim, era a casa perfeita.

Sempre gostou do sítio onde morou a vida toda, mas ali era diferente. Afinal, João era um pilrito-da-praia.


Inês Vidal 

terça-feira, 2 de abril de 2024

Livro para Crianças: O menino dragão

 

O menino dragão



1-Era uma vez um menino dragão...

 
2- que era um menino normal.


3- Vivia com a mãe dragão,

O pai dragão,

 


4- e o cão dragão!

 

5- Em casa, sentia-se muito feliz.


6- Mas quando foi para a escola, tudo mudou...


7- Era diferente dos outros.

Tinha cauda, orelhas...

e às vezes cuspia fogo!


8- Então, os outros meninos e meninas gozavam com ele:

"Que grandes orelhas!"

"Menino dragão, não és um menino normal!"

"Volta para a caverna, dragão!"


9- Um dia chegou a casa a chorar:

Mãe! Pai! Os outros gozam comigo!


10- A mãe dragão e o pai dragão disseram ao menino dragão

Mãe: Tu és forte como nós, mostra os dentes. Metem medo!

Pai: Quando te disserem algo feio, lembra-te que cospes fogo...


11- Menino dragão: mas eu quero ter amigos...


12- Pai: não são amigos se gozam contigo.


13- O menino dragão ficou muito triste com isto.

Mas não queria que gozassem com ele...


14- Então começou a mostrar os dentes,

ou a cuspir fogo se gozassem consigo.


15- Os meninos e meninas fugiram dele...

... com medo!


16- E já ninguém gozava com o menino dragão,


17- mas passava os dias sozinho...


18- Até que um dia, chegou à escola uma nova menina.

Que olhou para o menino dragão e pensou:

"Aquele menino, porque está tão sozinho?"


19- Menina: Olá! Porque estás tão sozinho?

Menino dragão: Os outros meninos têm medo de mim...


20- Menina: Medo de ti? Porquê?

Menino dragão: Sou um menino dragão, eles antes gozavam comigo.

Então comecei a ser mau...


21- Menina : Eu não tenho medo de ti,

mas não podes tratar mal os outros!


22- Menino dragão: Não preciso de ser forte para gostares de mim?

Menina: Não! Vamos brincar, menino dragão!


23- O menino dragão e a menina não dragão brincaram muito nesse dia...


24- E ficaram amigos para o resto da vida.

Menina: Gosto ti como és, menino dragão!



FIM

Notas finais

 Meus caros, aqui estão as notas que encontrei após tentar ser o mais justo que posso. Qualquer queixa, agradeço que a façam até terça às 13...