quarta-feira, 3 de abril de 2024

Livro para crianças

 Livro para crianças


O pilrito que nunca vira o mar


João era um pilrito-das-praias. Tinha uma penugem branca em tons de cinzento, um bico muito comprido e umas pernas muito altas.

Vivia com o seu bando de irmãos pilritos numa casa nas rochas.

Passava os dias a brincar na rua e o seu passatempo preferido era correr. Corria sem parar e sem se cansar de um lado para o outro. Só parava para caçar minhocas que encontrava escondidas na areia. Era o outro passatempo preferido dele.

João gostava da vida que levava ali, entre rochas, no sítio onde sempre viveu, mas nos seus sonhos via sempre uma casa diferente, em tons de azul e amarelo.

Um dia, enquanto corria com os seus amigos, apareceu um pilrito que nunca tinham visto. Era alto e forte. Contava histórias de encantar sobre a vida lá fora, nas praias, e de como havia tantos bichos para caçar à beira-mar.

“Mar?” - perguntou curioso o João. “O que é o mar?”

“O mar é um chão de água sem fim”, explicou o pilrito viajante.

“E como chegamos ao mar?”, perguntou o pilrito cada vez mais interessado.

“Basta seguir o cheiro de água salgada”, disse o explorador.

João estava decidido. Iria ver o mar, esse chão de água imenso e as praias de que falava o viajante.

Começou então a fazer os seus planos: aprender a voar alto e longe, caçar minhocas com mais velocidade e despedir-se dos pais. Esperava voltar um dia, mas só depois de ver o mar.

Ninguém quis acompanhar João e ele partiu sozinho na sua primeira aventura.

Voou, voou e voou sem se cansar até que, por fim, sentiu o cheiro de que falava o pilrito viajante. À medida que o cheiro ficava mais forte, junto de um chão amarelo, que se juntava a um chão de água, aterrou. Era a imagem que via nos seus sonhos.

João estranhou o pisar da areia, mas logo se habituou. Pé ante pé, foi andando e num instante estava a fazer aquilo que mais gostava: a correr. Corria muito rápido para a frente e para trás, como só um pilrito-da-praia sabe fazer.

Chegou por fim perto do mar. Molhou, a medo, a pata naquela água gigante. Era fria. Molhou uma e outra vez. Em breve estava a chapinhar na água.

Resolveu então ir procurar as muitas minhocas de que o viajante tinha falado. Com o seu bico comprido foi picando o bater das ondas na areia. Eram muitas, tantas, como nunca tinha visto. O pilrito viajante não o tinha enganado.

Depois de um dia inteiro a brincar, fartou-se de estar sozinho. Decidiu voltar e convencer todos os outros a ir com ele. Adorou o mar e queria partilhá-lo com os outros. Aquela sim, era a casa perfeita.

Sempre gostou do sítio onde morou a vida toda, mas ali era diferente. Afinal, João era um pilrito-da-praia.


Inês Vidal 

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