quarta-feira, 22 de maio de 2024

Sabem lá o que é o amor (um serão com Charles Bukowski)

 

Sabem lá o que é o amor diz Bukowski

Tenho 51 anos olhem para mim

Estou apaixonado por esta miúda

Estou caidinho mas ela também está agarrada

Então está tudo bem é assim que deve ser

Entro-lhes no sangue e elas já não se conseguem livrar de mim

Elas tentam de tudo para me fugir

Mas no fim voltam sempre

Voltaram todas para mim exceto 

aquela que eu deixei plantada

Por essa eu chorei

Mas nessa altura eu chorava por tudo e por nada

Não me deixem chegar à bebida da pesada

Que eu fico lixado

Podia ficar aqui a beber cerveja

a noite toda com vocês, seus hippies

Podia beber 10 litros desta cerveja

E nada é como se fosse água

Mas deixem-me chegar às coisas pesadas

E começo a atirar malta pela janela

Atiro qualquer um pela janela

Já o fiz

Mas vocês sabem lá o que é o amor

Não sabem porque nunca 

estiveram apaixonados é simples

Tenho esta miúda sabem e ela é linda

Ela chama-me Bukowski

Bukowski ela diz de mansinho

E eu digo o que é

Mas vocês sabem lá o que é o amor

Estou a dizer-vos o que é

mas vocês nem estão a ouvir

Não há aqui um de vós nesta sala

Que reconhecesse o amor se ele entrasse aqui

E vos desse uma sova 

Costumava pensar que leituras de poesia eram um subterfúgio 

Olhem tenho 51 anos e já vivi muito

Eu sei que são um subterfúgio

Mas eu disse a mim mesmo Bukowski

Morrer à fome ainda é um subterfúgio maior

Então cá estamos e nada é como devia ser

Aquele indivíduo como é que se chama Galway Kinnell

vi a foto dele numa revista

até tem boa cara

mas é professor

Credo conseguem imaginar

Mas vocês também são professores

Lá estou eu já a insultar-vos

Não nunca ouvi falar dele

Ou dele 

São todos térmitas

Se calhar é ego já não leio muito

Mas esta gente que constrói

Reputações em cinco ou seis livros

Térmitas

Bukowski diz ela

Porque ouves música clássica o dia todo

Conseguem ouvi-la a dizer isto

Bukowski porque ouves música clássica o dia todo

Isto surpreende-vos não é

Nunca pensariam que um sacana malcriado como eu

Podia ouvir música clássica o dia todo

Brahms Rachmaninoff Bartok Telemann

Porra não conseguia escrever aqui

É demasiado silêncio demasiadas árvores

Eu gosto da cidade esse é o meu lugar 

Ponho a minha música clássica todas as manhãs

E sento-me em frente da máquina de escrever

Acendo um charuto e fumo assim estão a ver

E digo Bukowski és um homem de sorte

Bukowski já passaste por tudo

e és um homem de sorte

e o fumo azul flutua sobre a mesa

e olho pela janela para Delongpre Avenue

e vejo pessoas a andar de um lado para o outro

e dou uma bafo no charuto assim

e pouso o charuto no cinzeiro assim e respiro fundo

e começo a escrever

Bukowski isto é que é vida digo eu 


Traduzido por Catarina Vieira


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