sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Não! Não! Não!

- "Não!"

A palavra que mais escutaremos antes de ingressar no mundo editorial, na busca por uma oportunidade no meio.

- "Não!"

A palavra que mais escutaremos já durante a permanência no negócio editorial.

- "Não!"

Uma das palavras mais invocadas no seio de qualquer tipologia de relações humanas (empresariais inclusive). Mas a palavra Não, não deixa de conter em si um cunho muito mais saudável do que aparenta.

Foram os Nãos (e os fracassos que os acompanham) que permitiram aos participantes nos depoimentos inseridos no livro de bolso, Starting a Business (da colecção Lessons Learned publicado pela Harvard Business School Publishing), darem os passos necessários às suas conquistas. Foram três os depoimentos que li (10. Never take no for an answer; 11. Overcoming obstacles e 14. Do what you love.)  

Foi a adversidade do tamanho das garrafas que permitiu a Lord Bilimoria (Página 61) tornar-se pioneiro num mercado que oferecia agora pela primeira vez cervejas armazenadas em garrafas maiores que convidavam à partilha. Essa (à partida) contrariedade tornou-se a força do seu negócio porque os restaurantes parceiros passaram a ver aqui uma oportunidade de aumento de vendas. Estas cervejas criavam um "sharing environment" (Página 64) trazendo assim mais gente à mesa. Criava-se aqui a parceria ideal: os restaurantes encomendavam mais e a empresa de Bilimoria por sua vez escoava o seu produto engarrafado, nas inicialmente tão indesejáveis garrafas de 660 ml. 

A sua inovação de vender garrafas de 660 ml em oposição às tradicionais de 330 ml no Reino Unido, conquistou assim um espaço diferenciado no mercado. Lord Bilimoria fez das suas fraquezas, força. Um mantra que o nosso professor nos tem incutido e que o CEO da Cobra Beer tão bem representa. 

Nem todos os Nãos têm de ser assustadores. Na verdade, muitas das vezes até se combinam nas mais belas expressões que podemos escutar: "Não posso", "Não quero", "Não faço", "Não permito", "Não concordo", entre tantas outras combinações possíveis. Afinal, saber receber um Não é tão importante como dizê-lo.

O Não é o combustível que alimenta a vontade. E se esta for segura, verdadeira e motivada, não há Nãos que impeçam alguém de procurar concretizar os seus objectivos e iniciativas. Os Nãos também nos desviam daquilo que não nos serve o engenho, para nos direccionar no lado certo. Nem que seja para se escutar mais um Não que nos faça perceber que estávamos no caminho errado. Tudo isso são ensinamentos, é lucro que não se perde e funciona como investimento. Só se soma e ajuda a melhorar. 

É como bem diz Ricardo Araújo Pereira: "Estar vivo aleija". E olhem que não aleija tão pouco assim. Mas antes aleijar com os seus Nãos, do que não se sentir nada e ficar-se assim anestesiado para a vida. No dia em que não sintamos mais nada é sinal do fim. E com essa chegada também se findam as hipóteses de se ouvirem outros Nãos. É importante escutar muitos desses Nãos pela vida para não só nos sentirmos vivos, como ainda ajudam a valorizar o tão desejado e merecido Sim quando este finalmente chegar. 

Ser tenaz sim. Ser obstinado sim. Mas tendo sempre em mente as palavras de Brent Hoberman (um dos fundadores da lastminute.com) em todo esse longo processo:

It is definitely never accepting no as a first answer - maybe once you have it ten, twenty, thirty times, you have to start thinking about it (...) So there is tenacity, but there is also knowing when you really are hitting your head against a brick wall. But to find that out you have to hit your head several times against that wall. (Página 58)

Nota: Foram três os depoimentos que li deste livro e que passo a listar de seguida: 10) Never take no for an answer; 11) Overcoming obstacles e 14) Do what you love. Escolhi-os por me identificar com as mensagens que os respectivos títulos veiculam. Aconselho as suas leituras, assim como dos restantes testemunhos. A par com esta leitura sugiro um manual de desenvolvimento pessoal, que embora pensado para mulheres, na verdade traz TODOS à discussão sobre os desafios do mercado laboral. No capítulo 2 a autora desconstrói e desmistifica a ideia romântica e redutora de que o síndrome de impostor se cura. Temos sim de "aprender a distorcer a distorção" (Sandberg, 2014: pp. 53) que criamos de nós mesmos. E como o podemos fazer? "Quando não me sinto confiante, uma tática que aprendi é que por vezes fingir ajuda." (Sandberg, 2014: pp. 53). Muito consolador não é? Resumidamente,  aplicando a segunda lei de Newton à autoconfiança isso faz com que duas forças se anulem (a falta de confiança Vs. fingir que se tem confiança) e resultem numa força igual a zero E assim se nasce a autoconfiança que nem sempre se sente confiante em si mesma.

E não é que a senhora Sheryl Sandberg tem razão? Não há mal nenhum em sermos humanos.

                  

Vanessa Oliveira Anjos.

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