domingo, 24 de dezembro de 2023

E vai um Paul Auster para a mesa 1!

São muitos os clássicos que fazem parte desta quadra: ver os anúncios da senhora rica que anda de limousine e chauffeur mas que é de grande simplicidade porque pede chocolates ferrero rocher em vez de champanhe francês; assistir em família Home Alone 1 e 2 com o tio a ressonar de fundo; ser-se tomado pela fúria porque Die Hard não passa nos canais generalistas (e sim, Die Hard é uma Christmas Story mas o Kevin McCallister que é sociopata pode passar na Sic); entre outros rituais.

Há outros dois importantes clássicos que ficam deixados à margem e são tão (ou mais) natalícios como os anteriores. Por alguma razão perderam-se pelo caminho da memória colectiva e não se fixaram no tempo. Falo de um conto de Natal de Paul Auster chamado Auggie Wren's Christmas Story, e da sua respectiva adaptação cinematográfica, Smoke (realizado por Wayne Wang e com co-autoria de Paul Auster no argumento). Smoke tem inclusive uma estrutura de storytelling que se assemelha mais a um livro do que a um objecto de imagem, algo que o torna tão único.

São histórias que não podem faltar na minha mesa de Natal porque representam o que de melhor existe na arte de narrar, na beleza do diálogo inter-artes e no verdadeiro espírito desta época festiva que passa pela partilha das emoções, do tempo e não tanto do consumismo sem critério.

Para efeitos de presente de Natal estas sugestões de oferta cultural podem já ir tarde, mas podemos sempre fazer como o mágico Luís de Matos que não espera pelo Natal para presentear quem mais gosta. Qualquer ocasião serve para ele o fazer. Qualquer ocasião serve para nos fazermos presentes e combater a solidão (a nossa e a dos outros). E isso Paul Auster também nos ensina muito bem com a moral deste seu conto de Natal. São o género de narrativas que sinto falta de encontrar nas prateleiras.

Em baixo deixo um dos excertos que mais gosto do filme. Enquanto revia essa cena percebi que não faz apenas alusão ao gesto de observação do leitor no caso da escrita e do espectador no caso das fotografias ou da imagem em movimento. O trabalho de um editor também passa por aí. Passa por abrandar (e parar preferencialmente quando necessário) para que melhor compreenda o que o texto procura falar caso contrário tornar-se-á um diálogo surdo entre duas vozes que não se escutam e resultará num dead end: "If you don't slow down you'll never get it my friend." (Smoke).

 


Por falar em espírito natalício encontra-se bastante disso nos estabelecimentos comerciais.


Fica este vídeo para celebrar o dia de Natal!


Vanessa Oliveira Anjos.

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