No passado sábado, dia 21 de Outubro, cerca de vinte pessoas se juntaram na livraria Snob para a apresentação do mais recente livro das Edições do Saguão: A Longa Estrada de Areia de Pier Paolo Pasolini. A apresentação foi dinamizada pelos editores, Mariana Pinto dos Santos e Rui Miguel Ribeiro. A plateia contava com João Coles, o tradutor, Fernando Ramalho, livreiro da Tigre de Papel, e demais interessados no livro que, por ignorância minha, não soube reconhecer.
Mariana começa por dar algumas notas biográficas do autor. Em 1959 Pasolini já tinha escrito para cinema mas ainda não havia realizado nenhum filme. Publica um dos seus mais marcantes livros, Uma Vida Violenta, que perdeu o prémio Strega para O Leopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Nesse mesmo ano o fotógrafo Paolo Di Paolo propõe ao editor da revista Successo fazer uma reportagem sobre os hábitos dos italianos durante as férias intitulada La lunga strada di sabbia, a longa estrada de areia. Paolo ficaria responsável pela imagem, Pasolini pelo texto. A compilação desses artigos escritos entre Junho e Agosto de 1959 dá origem ao novo livro da Saguão.
Durante cerca de uma hora Mariana e Rui contextualizam as várias etapas da reportagem: a crescente tensão entre Pasolini e Paolo (que levaria a que se separassem), o desconforto com as estâncias balneares burguesas do norte, encontros com Felini e outros conhecidos nos arredores de Roma, o deslumbramento com a brutal pureza do sul. Trechos não publicados originalmente na revista surgem no livro com uma indentação distinta, funcionando como notas diarísticas que permitem aceder aos estados de espírito do autor. Alguns dos lugares onde Pasolini passou viriam a ser cenários dos seus filmes. Terminada a viagem e a apresentação encaminhámo-nos lentamente para a rua pelos estreitos corredores da Snob, não sem antes comprar um exemplar do livro.
As Edições do Saguão nasceram em 2017 da necessidade de separar fiscalmente o braço editorial da associação O Homem do Saco, a Pianola, da restante organização. Desde então a editora tem vindo a construir um catálogo cuidado, não muito extenso, dedicado à literatura e ensaio. Segundo os próprios "publica pouco, mas bem". A Longa Estrada de Areia reforça a aposta da editora na literatura italiana, juntando agora Pasolini aos já editados Beppe Fenoglio, Giacomo Leopardi e Cesare Pavese. Como disse, o livro foi traduzido por João Coles, editor na Enfermaria 6, e revisto pelos editores, Mariana Pinto dos Santos e Rui Miguel Ribeiro. O grafismo e paginação ficaram a cargo do Rui Miguel Ribeiro, algo de resto comum aos vários livros da editora.
No final de Junho a propósito do ciclo de Conversas com Editores, dinamizado pela Tigre de Papel, Rui dizia que sendo a Saguão uma editora pequena sentem a necessidade de falar sobre os seus livros. Há um desejo de comunicação com os leitores e livreiros, não apenas passar informação mas um compromisso real com o pouco que editam. Rui dizia também ter dúvidas sobre se a apresentação de livros é a melhor forma de fazer essa comunicação. Não sei se será a melhor, provavelmente não será suficiente, mas após esta conversa fiquei certamente com mais vontade de comprar o livro e com mais ferramentas para o vender a amigos e potenciais interessados. A comunicação não se limita às primeiras semanas após a publicação, também o livro tem uma longa estrada a percorrer.
João Narciso
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