sábado, 13 de janeiro de 2024

Eram todas boas contracapas (Parte II)

Este exercício ajudou-me a desenvolver o pensamento crítico no que a capas e contracapas diz respeito. Por cada nova ida a uma livraria sei que já não irei ver o livro da mesma forma. Isso é bom pois era essa a minha intenção: entrar uma pessoa e sair outra diferente. Igual é que não poderia ser. Seria sinal de estagnação ou de involução. Com esta última parcela dou assim por terminada esta tarefa que tanto gosto me deu fazer. Com paixão tudo fica sempre mais simples e sem grandes esforços.


As crianças, assim como os adultos, têm pouca paciência para tretas. Quanto menos informação melhor. Esta contracapa de Algures na Neve cumpre essa missão. Trabalhar mais o poder da imagem é o que sempre recomendo. Gosto da ausência dos protagonistas (que figuravam na capa). Sugere que partiram os dois na sua aventura que só iremos encontrar no interior do livro. Só não gosto da remoção das pegadas na neve que estavam na capa. Teria ficado tão giro mas o código de barras também não permite espaço para muita criatividade. 


Esta contracapa deve ter sido um dos esquecidos de esquecidos de domingo. É um dos casos em que a contracapa borra toda a pintura quando a comparamos com a capa misteriosamente encantadora. Lá se foi o efeito e prazer da descoberta com toda esta densa mancha gráfica. Nem a referência à vitória de tantos prémios me convenceu. Revela em demasia. Parece aqueles trailers que vendem toda a intriga. "Gastei eu quase 10€ de bilhete. Mais valia ver o trailer umas duas ou três vezes e estava visto o filme". Quem nunca caiu nesse engodo?


O pequeno e discreto gráfico de medição da intensidade sonora deixou-me satisfatoriamente zonza. São pequenos pormenores (aparentemente insignificantes) aos quais dou muita importância por serem inventivos. O Bruno Nogueira como Bruno Nogueira que é até dispensava texto de contracapa porque seria capaz de vender Coca-Cola até num deserto. Eu teria resumido a sinopse só a esta frase: "Ao preparar este livro percebi que as coisas dentro da minha cabeça fazem muito barulho".


A visão da criança sobre o mundo resumida a uma frase. Tudo parece maior do que é na realidade porque se é ainda muito pequenino e tudo muito GIGANTE. Tanto a capa como a contracapa de As mãos do meu pai são incríveis. A mestria reside ainda mais no seu interior. De forma singela e respeitadora o autor conta uma história que não precisa de ser contada. Basta ser vista para ser sentida. Só com recurso ao desenho a cores (sem falas nem narração) vemos a nossa vida reflectida com o contraste (e paralelo) entre a infância do menino e a fase posterior como cuidador informal do seu pai. Uma total inversão de responsabilidades. A vida que para uns já o é, e a que será um dia para outros. Este livro foi o melhor que encontrei em toda esta tarefa. Fez-me lembrar aquelas pessoas bonitas por fora e que se revelam mais bonitas ainda por dentro. 

Sinopses e trailers assim precisam-se!


Vanessa Oliveira Anjos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Até sempre

 Terminado este ano, muito obrigada pelas partilhas, Rui Zink. Muita sorte a todos os que ainda vão entrar no mercado de trabalho.  Façam mu...