sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Eram todas boas contracapas (Parte I)

Depois do exercício da última aula percebi que sou medíocre a pensar sinopses quanto mais a executá-las (a minha ficou em branco). O lado positivo de se ser medíocre nessa competência de edição é que se pode deixar de ser medíocre. O lado mau de se ser bom é que a pessoa pode acomodar-se e deixar de ser bom para passar a ser medíocre. O lado positivo disso é que se pode retornar ao início, recomeçar todo o processo para corrigir falhas e ser mais competente da próxima vez.

Elaborar textos para contracapas tem sido um desses pontos fracos em que preciso de trabalhar e percebi-o mais ainda quando não consegui criar a sinopse para o exercício de aula. Não sabia simplesmente por onde começar. Não saber por onde começar é já em si um bom começo porque se percebe que há um diagnóstico que precisa de tratamento. "Aprender vendo como se faz". Um dos ensinamentos que temos escutado várias vezes em aula. Eu diria mais. Aprender vendo como se faz mas acima de tudo como não se deve fazer. Analisar (e não desvalorizar) atentamente os erros de terceiros pode funcionar em si também como uma boa ferramenta de aprendizagem para superar as dificuldades que nós próprios temos ou que ainda nem descobrimos que temos.

A literatura e tudo quanto está ligado a esta não é uma ciência exacta. Se o fosse deixaria de ser literatura para passar a ser qualquer outra coisa (estranha talvez). Por isso creio que o universo de criação de capas e de contracapas também funciona como uma ciência não exacta, que vive muito das preferências, de um modo de ver e das escolhas individuais (ou em equipa) que são tomadas. 

Dou assim continuidade ao anterior exercício de comentários, desta vez com contracapas, mas que na verdade não passa de uma mera crónica de opinião. O que constituem boas escolhas para uns revelam-se más escolhas para outros. O bom das opiniões é que não são nem boas nem más: são sim todas válidas ao debate, sendo essa uma das riquezas de uma comunicação interpessoal próspera e saudável.


Quando voltamos o livro e o cenário se agrava ao olharmos para a contracapa. Já o grafismo da contracapa de Criaturas Extremamente Inteligentes supera o da capa por ser mais discreto e por sugerir que o universo do livro é passado na água mas sem precisar de entregar muito. Alia o drama humano ao fantástico. Tem potencial mas mal aproveitado.


Se calha esta citação estar na contracapa, e se o design gráfico da banana estivesse na capa (cuja letra tem uma fonte que me agradou), possivelmente ter-me-ia desgraçado nessa tarde porque abria os cordões à bolsa para o comprar. Uma excelente citação no lugar errado. Ao contrário da colega Soraia que escolheu a citação perfeita para o lugar perfeito. E de tão bem escolhida que foi que eu pessoalmente até dispensava sinopse. Esta citação, assim como a da apresentação da Soraia, têm um elemento em comum e que me leva a comprar: aguçam a curiosidade do leitor.

                                           
Quando se é um incrível escritor de literatura regional que nem se precisa de texto de contracapa para se promover. Basta uma pequena ilustração para brilhar e veicular aquela impressão geral da raposa das fábulas como aquele ser matreiro que passa a vida a fazer pouco e a passar a perna aos outros. Aqui foi mesmo o Aquilino Ribeiro a passar a perna a outros escritores da concorrência no género literário do regionalismo.


Quando a contracapa não honra a capa. Esta última tem algumas falhas mas a contracapa de O Fantasma de Anya não lembra ao Diabo. Nem desgosto da sinopse a contornar o corpo da protagonista que vai em queda livre. Pelos vistos não é a única em queda livre porque a equipa responsável por esta contracapa desleixou-se a vários níveis. A caveira na parte inferior como se deitada no poço à espera de Anya? Uau! Adoro essa ideia! Logo depois surge ofuscada pelo selo da editora. Muito errado. A clássica cartada das críticas? Hum, cortava. Gosto dos trailers que nada revelam. Aqui surge demasiada informação revelada a meu ver.

P.S. Os quadrados coloridos que foram digitalmente inscritos nas imagens servem para tapar a publicidade feita a um grande grupo económico da distribuição livreira. Certamente que não precisam da minha boa ou má publicidade para venderem os seus produtos.

Vanessa Oliveira Anjos.

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