terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Eram todas boas capas (Parte I)

Antes das férias de Natal passei numa livraria na minha área de residência e fiz um exercício de análise comparativa de capas e de contracapas. Não é uma livraria catita e independente como a que Penelope Fitzgerald retrata em The Bookshop, mas ainda assim proporcionou-me aquele aconchego que um bom livro e uma chávena de chá trazem. 

Inspirada no título do filme Eram todos bons rapazes, criei o título desta entrada com base naquela que era antigamente a minha visão inocente sobre as capas/contracapas quando ia a uma livraria. Era exclusivamente uma visitante-leitora. Sou ainda visitante-leitora mas agora mais chata porque me tornei mais crítica com o objecto livro, característica que foi sendo trabalhada ao longo do semestre. 

Já não entro numa livraria com a mesma postura de antigamente. Já não entro como leitora apenas mas também com um olhar que se procura mais profissional. Tendencialmente mais profissional mas sempre me ensinaram que o que interessa é a intenção não é verdade? 

Eram todas boas capas até deixarem de ser tão boas assim. Todas as capas, umas mais do que outras, pareciam excelentes aos meus olhos. Qualquer livro era susceptível de causar uma boa impressão em mim só pelo facto de ser livro. Como se fosse o critério mínimo e máximo para se ser interessante. Como se ter diamantes inscritos num colar fizesse dele automaticamente bonito. 

Não elaborei um ranking de capas e de contracapas, optando antes por comentários breves que resumem a impressão que cada uma delas causou em mim como visitante-chata. A dada altura senti-me como um daqueles clientes mistério ou pior ainda: um intruso a espiar para a facção inimiga. 


Quando a capa tem DEMASIADO TUDO. Demasiado texto. Demasiada cor. Demasiados elementos do grafismo. Para começar dispensava a frase promocional por cima do título da obra.


Quando a ânsia pelas vendas "mancha" uma ilustração carregada de lindíssima obscuridade. Os prémios literários são excelentes mas podiam ter ficado na contracapa porque a capa é o gancho que faz ler a sinopse. O ilustrador merecia essa atenção porque um bom trabalho sobrevive aos prémios.


Mario Vargas Llosa pode até ser rabugento mas esta capa não o terá arreliado. Cheguei a pensar que tinha um brilho criado artificialmente mas afinal é da ilustração feita com recurso ao jogo de sombras e de luz criando essa ilusão. Só não dou 5 estrelas porque já tem uma lua.


Quando uma capa não precisa de fazer muito "barulho" para ser bem conseguida. Sóbria na tonalidade, no grafismo e na organização (com um ou outro pequeno detalhe a modificar). Como o desenho figurativo nos sugere, faz-nos desejar tapar os ouvidos, esquecer o mundo e mergulhar no livro. 

Vanessa Oliveira Anjos.

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